Relacionar a dinâmica da litosfera com as grandes estruturas geológicas
Associar a origem de uma cadeia montanhosa à atividade de um rifte situado nos fundos oceânicos, pode parecer algo sem sentido, numa primeira análise.
Contudo, a partir da teoria da Tectónica de Placas, percebe-se que uma cadeia montanhosa representa uma evidência clara da dinâmica da litosfera terrestre, correspondendo a “cicatrizes” na litosfera, que contam uma história longa e complexa.
A história começa nos riftes, que rasgam placas litosféricas continentais antigas, separando-as e originando novos continentes. Assim aconteceu com a Pangeia, com a fragmentação em dois novos continentes – a Gonduana e a Laurásia – que, entretanto, também sofreram fragmentação até formarem os atuais continentes. O afastamento entre os novos continentes formados faz-se lentamente, em resultado da construção contínua da nova placa litosférica oceânica que os separa, a partir da atividade do rifte que se instalou – expansão dos fundos oceânicos.
Em algum momento, o afastamento entre placas litosféricas continentais, numa Terra esférica, resultará na sua colisão com outro continente, ou com uma placa litosférica oceânica. Em ambos os casos, o resultado será o mesmo – a formação de uma cadeia montanhosa (intracontinental e pericontinental, respetivamente).
A litosfera apresenta, assim, movimentação horizontal através do movimento relativo entre as placas que a constituem, mas também movimentação vertical, atestada pela construção das cadeias montanhosas. Ao conjunto dos processos que ocorreram na Terra e que culminaram com a formação de cadeias montanhosas, designa-se por orogenia ou orogénese. Os movimentos verticais que se verificam na Terra, no sentido do equilíbrio entre a litosfera e a astenosfera, designam-se por movimentos isostáticos ou de isostasia.
A construção da cadeia montanhosa faz-se no sentido oposto à atuação da gravidade constituindo, por isso, uma anomalia isostática negativa. Já o afundamento da litosfera, em resultado da acumulação de sedimentos nas bacias sedimentares, constitui um anomalia isostática positiva.
O levantamento de uma cadeia montanhosa, ao longo de dezenas de milhões de anos, em resultado da colisão de uma placa litosférica continental com outra placa, produz intensa deformação (=alteração da forma original) nas rochas, devido às forças compressivas a que ficam sujeitas. Por sua vez, a deformação produz estruturas geológicas, nomeadamente as falhas, as dobras, mas também a textura foliada das rochas metamórficas típicas do metamorfismo regional, que tem a sua origem nestes contextos tectónicos. A atividade magmática também se faz presente neste contexto uma vez que, à medida que a cadeia montanhosa vai crescendo em altitude, a sua raiz vai sofrendo enterramento na litosfera, sendo as suas rochas aquecidas e fundidas.
Assim, sempre que uma placa litosférica continental está envolvida na colisão entre placas, forma-se uma cadeia montanhosa. Se a colisão ocorrer entre duas placas continentais, terá origem uma cadeia montanhosa intracontinental (cadeia situada no interior dos dois continentes), como é o exemplo dos Himalaias. Se a colisão ocorrer entre uma placa continental e uma placa oceânica, terá origem uma cadeia montanhosa pericontinental (cadeia situada na periferia do continente, paralela à zona da fossa marinha resultante da colisão), como é o exemplo da cadeia montanhosa dos Andes.
Quando o movimento de levantamento da cadeia montanhosa cessa, os processos erosivos fazem-se sentir mais intensamente, ao longo de muitos milhões de anos, levando ao desmantelamento dessa montanha, aplanando-a. O resultado final corresponderá a uma forma elevada e aplanada, constituída por rochas magmáticas intrusivas e metamórficas, intensamente deformadas por dobras e por falhas, constituindo regiões continentais tectonicamente estáveis designadas por escudos ou cratões, como é o exemplo do escudo ibérico designado por Maciço Hercínico (=Hespérico).
Em resumo:
- além da movimentação horizontal das placas tectónicas, estas também podem sofrer movimentação vertical, nomeadamente no processo de construção de cadeias montanhosas, em resultado de limites convergentes que envolvam placas litosféricas continentais;
- à medida que a colisão ocorre e a cadeia montanhosa vai sendo construída, a sua base vai afundando na litosfera, num movimento ajustamento isostático, possível devido à existência de uma camada inferior com carácter dúctil, a astenosfera.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Relacionar a dinâmica da litosfera com as grandes estruturas geológicas e seus movimentos verticais.
- Área Pedagógica: Geologia
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Adão Mendes - Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia (APPBG)
- Ano: 2020
- Imagem: Foto de eberhard grossgasteiger no Pexels