Ocupação de Goa, Damão e Diu pela União Indiana
Pelas 8 e meia da noite do dia 19 de dezembro de 1961, o último governador do Estado Português da Índia, general Vassalo e Silva, assinou a rendição incondicional das suas forças ao comandante indiano K. P. Candeth. Foi o desfecho esperado e previsível do avanço das forças da União Indiana sobre as possessões portuguesas, num breve conflito que durou cerca de 36 horas.
A desproporção de forças era evidente, entre cerca de 50 mil soldados indianos, com apoio aéreo e naval e dotados de moderno equipamento, e 3500 soldados portugueses, mal equipados e mal preparados para um confronto. A aviação indiana bombardeou o aeroporto e o porto de Mormugão e avançou rapidamente por terra, em várias frentes e nos três territórios de Goa, Damão e Diu. A resistência foi escassa e rapidamente neutralizada, nomeadamente a que opôs a fragata Afonso de Albuquerque. No final, contabilizaram-se umas três dezenas de mortos do lado português, e um pouco menos do lado indiano. Chegava deste modo ao fim quatro séculos e meio de presença portuguesa na Índia.
- Esta ocupação militar foi inesperada?
A invasão de Goa (ou “libertação”, dependendo do ponto de vista) foi o passo final de um longo conflito que opôs a União Indiana, que tinha obtido a independência do Reino Unido em 1948, a Portugal, cujo governo recusava dar qualquer passo nesse sentido em relação ao seu império ultramarino. A União Indiana considerava os territórios do Estado Português da Índia como as últimas parcelas da era colonial e reclamava a sua integração na União.
Ao longo da década de 1950, o conflito desenrolou-se nos fóruns internacionais, na ONU e junto da opinião pública mundial, que era cada vez mais desfavorável às posições intransigentes de Salazar. O Primeiro-Ministro indiano, Nehru, um pacifista, hesitou em usar a força, mas terá provavelmente concluído que a diplomacia era insuficiente. Em 1961, pouco depois de deflagrarem as primeiras revoltas em Angola, a Índia começou a concentrar as suas forças junto às fronteiras, prenunciando o ataque que veio a ocorrer a 18 de dezembro.
- O que aconteceu depois da rendição?
Embora fosse evidente que as forças portuguesas não estavam preparadas para o previsível ataque, o governo português não admitia qualquer rendição. Em mensagem enviada ao governador dias antes da ofensiva, Salazar dirigiu-lhe as seguintes palavras: “não prevejo possibilidade de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos”.
O general Vassalo e Silva desobedeceu, portanto, às ordens que exigiam o sacrifício dos seus homens. Cerca de 3000 soldados portugueses foram feitos prisioneiros e acabaram por ser libertados, ao fim de seis meses. Esperava-os, porém, uma fria receção em Lisboa e muitos foram castigados, por terem desobedecido às ordens. O governador Vassalo e Silva foi sujeito a tribunal militar e foi expulso do exército. Os territórios do Estado da Índia foram integrados na União Indiana, sob administração direta do governo federal, e as relações entre Portugal e a Índia só foram normalizadas depois da revolução de 25 de abril de 1974.
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Ficha Técnica
- Título: Os Dias da História - Ocupação de Goa, Damão e Diu pela União Indiana
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2017