Crianças e jovens com depressão: casos que a crise fez disparar

Entristecem, isolam-se e não sabem pedir ajuda. Os sinais depressivos estão lá, é preciso decifrá-los. Mas não é apenas o que se passa no íntimo dos adolescentes que os pode levar a atos desesperados. Crianças e jovens também sofrem com as dificuldades das famílias. Nos anos de crise, as consultas de pedosiquiatria nos hospitais do SNS aumentaram. Porque esta dor profunda resolve-se com acompanhamento especializado e não apenas com ansiolíticos, antidepressivos ou comprimidos para dormir.

De um dia para o outro, a crise económica começou a bater à porta das famílias portuguesas. Desemprego, insegurança no trabalho, cortes nos vencimentos e, no limite, emigração. Juntaram-se os medos a ensombrar presente e futuro, com pais angustiados, apreensivos, desorientados, menos disponíveis para os filhos. Todo este ambiente familiar foi absorvido pelos mais novos, o peso das dificuldades também caiu sobre eles e traduziu-se em sofrimento psicológico.

Ao esforço dos pais, sentiram-se eles obrigados a responder com boas notas, a serem alunos exemplares. Muitos não aguentaram a pressão e tiveram de recorrer a ajuda especializada. A atitude correta. Porque milhares de crianças e adolescentes não conseguem ultrapassar picos de ansiedade nos períodos de testes e exames, nem lidar com dificuldades, com o insucesso ou com a falta de auto-estima. Isolam-se, entristecem, não pedem ajuda, ficando mais perdidos num labirinto de dor. Tentativas de suicídio e auto-mutilação, muitas vezes sem intenção de morrer, chegam todas as semanas às urgências hospitalares.

O desafio da prevenção

O impacto da crise na saúde mental das crianças e dos jovens fez disparar as consultas de pedopsiquiatria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Na região centro, o Hospital Pediátrico de Coimbra recebeu, entre 2011 e 2013, mais de 80% de pedidos de consulta. Os internamentos também aumentaram. No entanto, em 2014, só existiam dez camas em Lisboa e outras dez no Porto para internar jovens com problemas mentais.

A capacidade de resposta é escassa, a falta de recursos, a carência de médicos e enfermeiros especializados, são problemas recorrentes num quadro em que a procura destes serviços aumentou em todo o país, nos últimos anos. São razões económicas que impedem o investimento necessário, porém há toda a urgência em olhar para esta realidade sem preconceitos. Trata-se de salvar crianças e jovens de uma dor invisível que os consome.

Nesta reportagem de 2014, falam Conceição Almeida do Programa Nacional de Saúde Mental Infância e Adolescência; Helena Santos, Assistente Social do Centro Hospital e Universitário de Coimbra; Álvaro Carvalho, diretor do Programa Nacional de Saúde Mental DGS; José Garrido, diretor do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital Psiquiátrico de Coimbra.

Uma aventura no vulcão adormecido dos Açores
Veja Também

Uma aventura no vulcão adormecido dos Açores

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Saúde Mental nos Jovens e nas Crianças
  • Tipologia: Reportagem
  • Autoria: Carolina Ferreira
  • Produção: RTP
  • Ano: 2014