Charlot, a arte de comunicar sem palavras
Charlie Chaplin começa a ser Charlot aos 25 anos. A imagem do pequeno homem de bigodinho estranho, chapéu de coco e bengala, é um ícone do século XX. Ainda hoje nos faz rir sem dizer uma única palavra. Afinal, é ele o génio do cinema mudo.
Nas telas do cinema mudo um homenzinho desastrado e cómico arrancava gargalhadas a multidões. Era o vagabundo, o marginal resistente, que ajustava contas com os poderosos, troçava dos ditadores, transgredia ao mesmo tempo que era um sentimentalão de lágrima no canto do olho, pronto a apaixonar-se e a sofrer por amor. Como na vida real.
Charlot fazia comédia social e ria-se de si próprio, com ternura. Bigodinho estranho, chapéu ridículo e bengala, que tantas vezes usava como arma, faziam parte da personagem criada por Charlie Chaplin.
Nunca pensei no vagabundo em termos de apelo. Ele era eu mesmo, um espírito cómico, algo que estava dentro de mim e que tinha de expressar. Sentia-me tão livre.
Charlie, nascido em Londres a 16 de abril de 1889, herdou dos pais, ambos artistas, o talento para pisar os palcos do “music-hall”. A primeira vez, tinha cinco anos. Aprendeu a cantar, a dançar, a fazer números de circo, a tocar violino e violoncelo. A infância foi marcada pela miséria e pela tristeza da morte do pai, a doença da mãe, que a impedia de trabalhar e a experiência do orfanato. Ainda menino, começou a ser o sustento da casa. Depois de representar alguns papéis, o cinema chega definitivamente em Fevereiro de 1914, com a personagem mítica de Charlot no filme “Kid Auto Races at Venice”.
No cinema, Charlie faz de tudo. Imagina, escreve e filma as histórias, interpreta, produz e, compõe a música que acompanha as cenas. “A cidade das Luzes “, de 1931, é o seu primeiro filme com direito a banda sonora. Em 1918 funda os próprios estúdios, a United Artists e faz longas metragens. Da extensa filmografia, destacamos alguns títulos, universalmente conhecidos: “Luzes na Ribalta”, “Tempos Modernos”, “A Quimera de Ouro”, “O Vagabundo” e o “O Grande Ditador”.
A reportagem que aqui mostramos, da jornalista Inês Fonseca Santos, procura responder a uma pergunta feita pela mais célebre personagem do cinema mudo: quantos de nós sabem usufruir dessa graça universal que é o silêncio?