Extremos no termómetro e no pluviómetro
Riscos Naturais: Ondas de calor e de frio e Secas
As catástrofes são eventos dramáticos responsáveis por inúmeras perdas humanas, pela necessidade imperiosa de assistência à população, direta ou indiretamente afetada, e pela reconstrução do património construído e relançamento da economia, implicando custos avultadíssimos para os quais nem sempre os países têm capacidade económica a não ser recorrendo ao apoio internacional. Desde o tsunami no Sudeste Asiático que ceifou milhares de vidas em 2004, passando pelo furação Katrina em 2005 que assolou New Orleans (EUA) até ao terramoto que destruiu o Haiti em 2010, todo e qualquer evento é noticiado em tempo real pelos meios de comunicação, conferindo uma sensação de proximidade temporal e espacial, particularmente, aos fenómenos catastróficos, de que decorrem ondas de solidariedade à escala global por se transformarem em realidades emocionalmente vividas por todos.
Os riscos naturais (Fig.1) são fenómenos físicos de ordem natural que podem ter na sua origem eventos de natureza geofísica (sismos e erupções vulcânicas), climática (tempestades, furacões/ciclones, vagas de frio, vagas de calor, secas), hidrológica (cheias, inundações), geomorfológicas (deslizamentos) ou biológica (pragas de animais, epidemias).
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), uma onda de calor “ocorre quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior em 50C ao valor médio diário no período de referência”.
As ondas de calor são mais comuns no verão, quando ocorrem sistemas de alta pressão duradouros, persistindo por um período prolongado de tempo (dias ou semanas) e mantendo as temperaturas anormalmente mais elevadas.
As ondas de calor são eventos climáticos extremos e pontuais, mas as alterações climáticas estão a torná-las mais frequentes. Por outro lado, é preciso ter em consideração que os efeitos de uma onda de calor na Noruega não são os mesmos que em Portugal, pois cada população tem uma aclimatação fisiológica particular que lhe permite enfrentar os aumentos de temperatura de forma diferente de uma outra.
Num contexto de onda de calor, os aglomerados habitacionais são os elementos mais vulneráveis, pois é na saúde humana que o seu impacto é maior, afetando, principalmente, idosos, crianças e pessoas que sofram de patologias do aparelho circulatório e respiratório.
A população das áreas urbanas corre maior risco dos efeitos de uma onda de calor prolongada do que aquela que vive em áreas rurais mais frescas, pois o asfalto, o vidro e o cimento utilizados nas infraestruturas edificadas armazenam o calor por mais tempo, libertando-o gradualmente à noite e elevando a temperatura noturna – fenómeno conhecido por ” ilha de calor urbano” – Fig.2.
Em Portugal, os distritos do interior – Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja (Fig.3) – são os mais suscetíveis, pois o efeito de continentalidade, característica da interioridade, é responsável pelo aumento da amplitude térmica anual com reflexo no aumento da temperatura média mensal destas regiões nos meses de verão.
Uma vaga de frio ocorre quando pelo menos em seis dias consecutivos, a temperatura mínima do ar seja inferior em 50C, ou mais, ao valor médio das temperaturas mínimas diárias no período de referência (OMM). A temperatura do ar pode mesmo atingir valores negativos quando associada a ventos fortes que acentuam o efeito do frio.
No inverno, as ondas de frio – períodos prolongados de temperaturas excessivamente baixas – decorrem da invasão repentina de massas de ar muito frio, oriundas da região polar, sobre uma grande superfície continental.
Em Portugal, estas massas de ar atingem com maior impacto a região norte e interior centro do país – Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda e Castelo Branco -, aquecendo à medida que descem em latitude (Fig.4).
Juntamente com a ocorrência de geada, as ondas de frio podem causar danos graves à agricultura, atrasando ou destruindo as colheitas, podem dificultar a circulação automóvel de pessoas e mercadorias e podem ser causadoras de morte por hipotermia das pessoas mais desprotegidas (idosos, crianças e sem-abrigo). As ondas de frio implicam também uma sobrecarga dos sistemas elétricos em virtude da maior necessidade de aquecimento.
Um outro risco climatérico são as secas associadas à escassez prolongada de água devido à diminuição da precipitação durante um longo período em relação à média estatística plurianual para a região.
A falta de precipitação não só interfere na repartição temporal e espacial da disponibilidade dos recursos hídricos com repercussões graves ao nível do abastecimento público de água (Fig.5), como também na própria qualidade deste recurso, colocando em risco as populações.
Afetando, sobremaneira, as atividades económicas de produção e transformação agroindustrial, as secas podem causar situações mesmo catastróficas, tais como fome, epidemias e migração de populações quando as pessoas esgotam todos os seus recursos financeiros e a sobrevivência fica posta em causa.
As alterações climáticas têm agravado o problema em Portugal, estando quase todo o território continental em risco elevado, ou muito elevado (Algarve e interior do Baixo Alentejo) – Fig.6. A estreita faixa a norte de Lisboa apresenta risco moderado, por efeito da proximidade às massas de ar húmidas oceânicas e da descida em latitude da perturbação da frente polar, que implicam valores de pluviosidade globalmente maiores no norte e litoral centro e, por conseguinte, menor suscetibilidade a secas.
SÍNTESE
- Os riscos e as catástrofes podem ser de origem natural, causados por fatores físicos com origem na natureza, ou de origem antrópica, quando resultam da ação humana.
- O mesmo tipo de fenómeno, ocorrendo com a mesma intensidade em sociedades diferentes, pode provocar fortes disfunções em algumas e não afetar outras.
- O conhecimento dos perigos (ondas de calor, ondas de frio e secas) e respetivos riscos é fundamental para o sucesso na redução ou mesmo eliminação do risco de catástrofe natural.
- Os mapas temáticos são fundamentais nas políticas de emergência e proteção civil, para delimitar o grau de exposição aos diferentes riscos e, assim, propor as medidas mais sustentáveis de mitigação e prevenção dos efeitos destrutivos das catástrofes.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Ambiente e Sociedade - Riscos Naturais
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Leito de rio seco / Pixabay