Escala do tempo geológico e sua relação com factos biológicos e geológicos
Da mesma forma que o ano civil está dividido em meses, estes em semanas, que por sua vez se dividem em dias, …, a escala do tempo correspondente à idade da Terra, o tempo geológico, também apresenta divisões que vão sendo sucessivamente menores.
O tempo correspondente à idade da Terra, aproximadamente 4.600 M.a., está organizado e subdividido em diferentes intervalos, de acordo com a tabela do tempo geológico (tabela cronostratigráfica). Esta tabela, foi sendo construída e vai sendo atualizada com base no registo geológico/paleontológico de colunas estratigráficas de diversos locais da Terra, onde estão registados diferentes momentos da sua história. Uma das funções da estratigrafia é, pois, estudar, caracterizar e ordenar no tempo essas diferentes informações, presentes em diferentes locais, para a construção da tabela do tempo geológico.
O maior intervalo de tempo é designado por Éon, distinguindo-se quatro diferentes, do mais antigo para o mais recente: Hadeano, Arcaico, Proterozoico e Fanerozoico. De forma simplificada, todo o tempo correspondente aos três primeiros intervalos é designado por Pré-Câmbrico, o que corresponde à maior parte do tempo da Terra (cerca de 4.000 M.a.). Os primeiros seres vivos existentes na Terra situam-se no Arcaico, através de formas muito raras pertencentes aos domínios Archaea e Bacteria. Pertencem ao Éon Proterozoico as primeiras evidências de vida multicelular na Terra, através de formas fósseis pouco abundantes, pois eram seres vivos desprovidos de partes duras, o que dificultou a sua fossilização. O Éon Fanerozoico, o mais recente na história da Terra, corresponde ao intervalo de tempo no qual existe vida evidente, registada pela abundância e diversidade de fósseis.
Cada Éon está dividido em Eras. O Éon Fanerozoico divide-se em três Eras: Paleozoica (=”vida antiga), Mesozoica (=”vida intermédia”) e Cenozoica (=”vida recente”). Estas Eras estão separadas por importantes acontecimentos da história da Terra – as extinções em massa. Assim, entre a Era Paleozoica e a Mesozoica verificou-se a extinção de vários grupos de seres vivos, como as trilobites. Entre a Era Mesozoica e a Cenozoica verificou-se a extinção em massa mais frequentemente referida, que inclui os grupos das amonites e dos dinossáurios.
Cada Era está dividida em diferentes Períodos. A Era Paleozoica está dividida em vários: Câmbrico, Ordovícico, Silúrico, Devónico, Carbónico e Pérmico. É pelo facto de o Câmbrico ser o primeiro deles e, por isso, o mais antigo, que se designa todo o tempo anterior a esse por Pré-Câmbrico. A Era Mesozoica está dividida em três Períodos: Triásico, Jurássico e Cretácico. O Jurássico é, talvez, o mais conhecido de todos, pela divulgação que lhe foi dada pelo cinema, pois corresponde ao período áureo dos dinossáurios. A Era Cenozoica está dividida em dois Períodos: o Paleogénico e o Neogénico, no final do qual se assinala o aparecimento da espécie humana.
Além do Período, existem ainda outras subdivisões em intervalos de tempo sucessivamente menores (Época e Idade, por esta ordem).
A importância dos fósseis é, pois, decisiva para o estabelecimento das divisões do tempo geológico. As diferentes Eras do Éon Fanerozoico são facilmente identificadas pelos tipos de seres vivos mais representativos em cada uma delas. Assim, as rochas pertencentes à Era Paleozoica são reconhecidas pela presença de trilobites, enquanto a Era Mesozoica é facilmente identificada pela presença de fósseis de dinossáurios e de amonites nas rochas dessa idade. A Era Cenozoica é identifica, entre outros, pela diversidade de mamíferos.
À tabela do tempo geológico foi entretanto associado o tempo absoluto, em milhões de anos, obtido através das datações radiométricas. Por esse motivo, é frequente a associação imediata entre a extinção dos dinossáurios e das amonites, com a idade de 65 M.a., aproximadamente, ou seja, na transição entre o período Cretácico da Era Mesozoica e o início da Era Cenozoica.
Em Portugal existem locais de elevado interesse para o estabelecimento da tabela do tempo geológico. Na praia da Murtinheira (F. Foz), mais concretamente nas camadas carbonatadas da Serra da Boa Viagem, está definido um intervalo de tempo reconhecido pela comunidade científica internacional, correspondente ao início do Bajociano, um intervalo de tempo do período Jurássico (médio). Em Peniche, na Ponta do Trovão, existe outro limite com o mesmo reconhecimento, correspondente ao início do Toarciano, intervalo de tempo situado no topo do Jurássico inferior. Estes limites, com importância mundial, são designados por estratotipos e estão assinalados pela afixação do chamado “Golden spike” (“prego dourado”).
Em resumo:
- o tempo geológico está dividido em intervalos de tempo maiores (o Éon), que se subdividem em Eras e estas em Períodos;
- dentro do Éon Fanerozoico (o mais recente), distinguem-se as Eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica. A transição entre as diferentes Eras está marcada por extinções em massa;
- cada uma das Eras está identificada pela ocorrência de determinados grupos de seres vivos. Assim, as trilobites identificam a Era Paleozoica, enquanto os dinossáurios e as amonites identificam claramente a Era Mesozoica, por exemplo.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Relacionar a construção da escala do tempo geológico com factos biológicos e geológicos da história da Terra
- Área Pedagógica: Geologia
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Adão Mendes - Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia (APPBG)
- Ano: 2020
- Imagem: Foto de eberhard grossgasteiger no Pexels