Graça Morais, a pintora do feminino e dos males do mundo
É a partir do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, que a pintora nos descodifica a sua obra. O isolamento do país interior e a difícil vida das mulheres do campo são traços fundamentais da intervenção artística. Mas também os grandes males do mundo são uma inquietação permanente que expressa na tela.
Nascida em Vieiro, Trás-os-Montes, em 1948, Graça Morais tem uma das mais ilustres obras da pintura contemporânea portuguesa. Sobretudo centrada, segundo a própria, nas grandes dores do mundo, como a violência e a morte, as injustiças e a indiferença. Mas são os rituais femininos da zona campestre onde nasceu que marcam de forma muito particular o seu trabalho. Mulheres e bichos, muitas vezes ambos apresentados numa só figura, revelam as suas raízes e a vida difícil de quem trabalha o campo. O universo feminino transborda como matéria principal do seu traço ao longo de toda a sua vida artística.
Além das inúmeras exposições, ao longo de décadas, quer em Portugal, quer no estrangeiro, o seu trabalho está presente nos principais espaços de cultura do país, além de integrar inúmeras coleções públicas e privadas. A arte de Graça Morais pode encontrar-se em palcos tão díspares como a Assembleia da República, o Edifício Sede da Caixa Geral de Depósitos ou uma estação do Metro de Moscovo. Com uma obra plástica reconhecida e divulgada, conquistou ao longo dos anos uma enorme quantidade de prémios e as mais elevadas distinções.
O desenho e a pintura são, no entanto, apenas uma das múltiplas formas que encontrou para representar a sua visão do mundo. A inquietude da mulher que desde criança se quis dedicar aos traços tem expressão em intervenções que vão da azulejaria, à conceção de livros com escritores como José Saramago ou Miguel Torga. A artista revela-se ainda numa multiplicidade de demonstrações que passam pela tapeçaria nacional ou mesmo na qualidade de criadora cenográfica e figurinista de teatro, como no caso da peça Ricardo II, de Shakespeare, numa representação no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.