Palácio Fronteira
O Jardim Barroco do Marquês de Fronteira
Construído na segunda metade do século XVII, este grande jardim é o projeto audacioso de uma grande figura da nobreza portuguesa. Mais do que aplicar os modelos arquitetónicos e decorativos do seu tempo, D. João de Mascarenhas reinterpreta as referências clássicas e introduz ainda um tema inédito nestes espaços de recreio. Uma espécie de lição de história para a geração que vem a seguir. Também por isso, os jardins do Palácio Fronteira são considerados uma obra-prima da Arte Barroca. Os mesmos por onde passeamos nos quatro vídeos a seguir.
Este nobre português do século XVII batalhou contra os castelhanos nas guerras da Restauração, ao lado do futuro rei D. João IV. Alcançada a independência, João de Mascarenhas, até então conde, viu a dedicação recompensada com riquezas e o título de Marquês de Fronteira. Nobre cavaleiro, homem culto, erudito, de reconhecido bom gosto, pensou e mandou construir os mais sofisticados jardins para o seu Palácio erguido na mesma altura. Mas o quis dizer com este projeto, contemporâneo de Versalhes, ia muito além do que se fazia na Europa. No meio do verde, dos lagos, das estátuas de mármore e das figuras da mitologia clássica, o senhor Marquês decidiu criar uma peça de resistência onde expulsava os Filipes da História de Portugal.
Com bustos de reis portugueses e painéis de azulejos barrocos a representar cavaleiros emplumados, D. João de Mascarenhas inscrevia uma declaração pública e política dirigida à monarquia e à sua classe social. A nobreza suportava a realeza, por isso deviam todos lembrar-se dos desígnios e interesses que os uniam. De como os nobres faziam reis e, se necessário fosse, de como também os desfaziam.
Divindades em escala humana, musas e outras figuras mitológicas, guardiões das artes e das ciências, cumprem os modelos decorativos do período barroco neste singular jardim idealizado por D. João de Mascarenhas. Também aqui, na galeria que agora visitamos, as escolhas do primeiro Marquês de Fronteira não seguem à risca as referências da Antiguidade Clássica. De forma desassombrada, reinterpreta o programa das artes liberais e substitui a gramática pela poesia. A nova disciplina representada no azul e branco dos azulejos seiscentistas está ao centro de outra narrativa protagonizada por um dos deuses mais importantes do Olimpo. Mas será que a presença proeminente de Apolo nos jardins do nobre cavaleiro tem outra leitura? A historiadora Ana Duarte Rodrigues acredita que sim.
Barrocos ou não, os jardins são locais de lazer. E estes, de complexo desenho de rigor geométrico, cumpriam o propósito com elegância e sofisticação. Por entre árvores, fontes e lagos, cada espaço diferenciava-se, tinha a sua vocação. De um lado merendava-se, do outro escutava-se música e recitava-se poesia. Ou faziam-se jogos em pequenos grandes labirintos. Havia ainda espaços mais intimistas, de maior recato. Como o exemplar jardim das Damas, com forte simbologia centrada na estátua de Vénus. Em tempos de paz, os nobres portugueses copiavam o estilo de Versalhes.
Utilizado sobretudo nos meses quentes do verão, este jardim de grandes árvores e grandes sombras é rematado por uma espécie de gruta artificial com um lago a desenhar dois esses. O pequeno refúgio profusamente decorado com bocados de porcelana, vidro, azulejos, pedras e conchas é um exemplo feliz dos embrechados, uma técnica a fazer lembrar os padrões da arquitetura islâmica. Mas os pratos e os cacos da Casa do Fresco, assim se chama, não são uma loiça qualquer. São a prova que o Palácio do Marquês era digno de reis.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Visita Guiada - Jardins do Palácio Fronteira, Lisboa
- Tipologia: Excertos de Programa de Cultura Geral
- Autoria: Paula Moura Pinheiro
- Produção: RTP
- Ano: 2014