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Na Deriva do Império
Desastre

A sala das máquinas ficou inundada depois de se detectar um rombo no casco. Deixaram de funcionar os motores, as casas de banho e as cozinhas. Um pequeno gerador assegura um fornecimento mínimo de eletricidade e permite comunicar com exterior. Consegue-se controlar o medo e improvisam-se refeições, mas um surto de diarreia complica ainda mais a situação. Na "Deriva do Império" é um podcast que conta a história de um incidente que deixou à deriva o navio Império, em janeiro de 1970, quando levava 1400 soldados para Moçambique.

Protagonistas do podcast “Na Deriva do Império

Para a completar os diversos episódios do podcast “Na Deriva do Império” foram realizadas mais de duas dezenas de entrevistas a homens e mulheres que de alguma forma foram afetados pelo incidente no navio Império em janeiro de 1970. Importantes para esclarecer e detalhar alguns dos acontecimentos foi também a conversámos com especialistas. Neste artigo vamos conhecer alguns deles.

Isidoro Correia foi copeiro a bordo do navio Império e a primeira pessoa contar-me a história do incidente que aconteceu a bordo a 9 de janeiro de 1970.
Vitor Pereira foi operador de criptografia da Companhia de Comando e Serviços do Batalhão de Cavalaria 2903. Nunca esqueceu que depois do navio ficar à deriva encontrou o amigo Ramiro Silva, na cama, agarrado à fotografia da filha bebé... um momento que o marca até hoje.
José Vaz foi furriel (sargento) responsável pelo sector das informações e operações do Batalhão de Artilharia 2901. Antes do Navio partir visitou os alojamentos e percebeu que os soldados iriam ter uma viagem com condições precárias.
Rafael e Gertrudes Marques trocaram cartas quase diárias enquanto estiveram separados pela guerra. Como muitos outros casais eles estiveram afastados mais de dois anos.
Referências e questões militares do podcast foram apuradas pelo tenente-coronel Pedro Marquês de Sousa, autor do livro "Os Número da Guerra de África".
Maria Filomena estava grávida quando o marido partiu para Moçambique. Paulino Oliveira só conheceu o filho quando voltou da guerra. A criança tinha quase dois anos.
Um dos netos de José Jorge dos Santos já o questionou sobre o que passou em África, mas o enfermeiro que integrava o Batalhão de Cavalaria 2903 não gosta de falar sobre as suas experiências com a família.
João Hilário Lima continua a guardar a lâmina "gilete" e também o terço que o acompanharam ao longo de todo o tempo que esteve em Moçambique.
Marta Martins Silva, que muito escreveu sobre os militares de que passaram por África, revelou-nos histórias relacionadas com o "aerograma" - o meio mais usado na correspondência diária de tropas e famílias - e com as madrinhas de guerra.
Levou tempo até a vida de de Carlos Costa voltar ao normal. Depois de regressar de Moçambique o movimento de pessoas e carros em Lisboa causavam-lhe confusão.
António Brito diz que em Lisboa foi difícil a entrada para o Império. O choro e os gritos dos familiares e amigos que se despediam deixaram-lhe uma memória dolorosa que se mantém até hoje.
A professora Ana Sofia Ferreira conduziu-nos pelas histórias dos grupos que no princípio dos anos 70 do século passado se armaram para lutar contra a ditadura do Estado Novo. Para os homens que seguiam no Império continua a discussão sobre se aquilo que aconteceu foi acidente ou atentado.
Nicolau Azevedo, ferido depois de pisar uma mina, teme que os portugueses que lutaram em África estejam a ser vistos como "inimigos".
Vitor Pereira, João Moura,  Vitor Valente e José Vaz eram todos militares que seguiam no Império quando o navio ficou à deriva. Antes do lançamento do podcast "Na Deriva do Império" realizou-se uma audição conjunta do primeiro episódio, com o jornalista Carlos Guerreiro, num dos estúdios da Antena 1.
No Império seguiam cerca de 1400 militares com destino a Moçambique. A maioria pertenciam aos batalhões de Artilharia 2901 e Cavalaria 2903. Nestas fotografias assistimos aos reencontros destes homens em 2023 em Guimarães e Fátima.
 

 

Documentos e Livros

Para a preparação do podcast “Na deriva do Império” foi essencial a consulta de vários espólios documentais e arquivos, nomeadamente, a Hemeroteca e os arquivos históricos da marinha e do exército. Foram consultados vários jornais do período, tal como os relatórios de viagem do Império e do Niassa, e ainda a documentação relativa á actividade dos batalhões de artilharia e cavalaria que seguiram para Moçambique.

Não menos importantes foram os livros e os manuscritos que diversos participantes no podcast escreveram e publicaram.

Os jornais da época, existentes na Hemeroteca de Lisboa e online, foram uma das primeiras fontes consultadas para a preparação do podcast. Apesar da Censura ter impedido a publicação de muitos dos pormenores, a imprensa serviu para conhecer também a realidade noticiosa daquele período.
Foram consultados vários arquivos, ainda antes de começarem a entrevistas, para estabelecer uma cronologia e perceber com detalhe o que se tinha passado. Alguns documentos apenas ficaram disponíveis décadas depois do acontecimento, até porque se tratavam de registos confidenciais de caráter militar.
O livro de José Vaz, que é um dos entrevistados do podcast, foi dos primeiros a que a equipa teve acesso porque está disponível uma cópia online.
A experiência pessoal e militar de João Hilário Lima durante o período da guerra está reunida em verso neste livro publicado em 2014.
O general Velasco Martins tem dois livros publicados sobre o que se passou com o navio Império e com os militares que comandou em Moçambique. Este é um deles e foi consultado para a produção do podcast.
Memórias de Mar e Mato, de Vítor Pereira, é um dos livros referidos ao longo do podcast. O autor enviou-me uma cópia antes de termos a nossa conversa na aldeia do Fiandal, perto de Alenquer.
Foi quando Alexandre Batista se preparava para lançar este livro que percebeu como vários camaradas seus viviam sob efeito de stress pós-traumático causado pela guerra.
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