“Não vás contar que mudei a fechadura”, de Sérgio Godinho
Ele é poeta, interventor, escritor de canções. Do seu universo musical fazem parte pequenas histórias, algumas de amor, outras de liberdade, que se contam em letras que sabemos de cor. São feitas para ler, para ouvir e também para ver. Porque quando Sérgio Godinho pisa os palcos, todas ganham um novo ritmo criativo. Como esta, que sem música, desliza apenas na espessura da voz do seu criador. Eis o programa Voz com um dos mais importantes cantautores portugueses das últimas décadas.
Não vás contar que mudei a fechadura
Não vás contar que mudei a fechadura
nem revelar que reclamei dos teus anéis
o amor dura, se durar, enquanto dura
e o vento voa à procura dos papéis
O vento passa à procura dum engano
e quando encontra presa fácil na cidade
bate à janela, e redemoínha, e causa dano
naquilo que é suposto ser nossa vontade
Já de manhã, vai parecer tudo tão diferente
não é do vinho, nem do sono, ou do café
é só que o olho por olho, dente por dente
nos deixa o rosto assemelhado ao que não é
Não vás contar-lhes desse abraço derradeiro
nem que mudei a fechadura mal saíste
quero o teu rosto devolvido por inteiro
o desse dia em que me vi no que tu viste
Não vás tomar à letra aquilo que te disse
quando te disse que o amor é relativo
se o relativo fosse coisa que se visse
não era amor o porque morro e o porque vivo
Sérgio Godinho – Coincidências 1983
Temas
Ficha Técnica
- Título: "Voz"
- Tipologia: Programa de Poesia
- Autoria: Produções Fictícias
- Produção: até ao Fim do Mundo
- Ano: 2005