A crítica de José Saramago ao reinado de D. João V

No tempo histórico do século XVIII, José Saramago encontrou matéria para a ação do romance que iria correr mundo. O escritor trabalhou sobre acontecimentos passados, inventou e reinventou personagens, criou uma ficção para mostrar o que a História não costuma contar.  

Como noutras obras, também Memorial do Convento é um manifesto contra o poder – neste caso da Igreja e da Coroa – , contra a Injustiça e o Mal. Não se podia ambicionar voar em “Passarolas” quando a Inquisição queimava homens e mulheres na fogueira e os operários passavam fome. No reinado do ouro, o autor denuncia a pobreza do povo. Mas entre este Portugal de um rei que “entrou no delírio das grandezas” e o de um ditador com a” visão económica (…) de um dono de casa”, Saramago vislumbra os mesmos pobres e explorados. Duzentos anos depois de D. João V, veio Salazar governar o país, porém, “em baixo, a pobreza era a mesma”, sublinha.

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Saramago levou para os livros o que pensava enquanto homem, militante comunista, ativista de grandes causas, acima de tudo um humanista. Para ele a literatura tinha ideias e ideologia, servia para questionar e fazer pensar. Assim o fez em Levantado do Chão, ao tratar as desigualdades sociais, e assim continuou a fazê-lo nas páginas que a seguir escreveu, apoiado em metáforas e alegorias, “romances que não estão isentos dessa razão de ser e dessa razão de querer chegar aos leitores”, começa por dizer no excerto do documentário que abre este artigo.

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Apesar de Memorial do Convento ter como cenário este período da História, a visão do seu autor é, nas palavras de Rui Vieira Nery, apenas literária e não a de um historiador. Para o musicólogo a fascinante narrativa de José Saramago não leva em conta um outro lado do “poder régio esmagador” de D. João V. Vamos ouvir a resposta que dá a Paula Moura Pinheiro.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Saramago - Documentos
  • Tipologia: Excerto de Documentário
  • Produção: Zebra Filmes
  • Ano: 1995
  • Clara Ferreira Alves: Entrevista
  • João Mário Grilo: Realização