José Saramago: quando a escrita mudou

Sempre escrevera conforme as regras da mais pura gramática. A narrativa corria ao ritmo da vírgula, do ponto, com o travessão a identificar o interlocutor no diálogo. Mas um dia, de repente, sem saber como, a pontuação ausentou-se das palavras e José Saramago percebeu que ganhara a voz dos contadores de histórias. Por isso recebeu um coro de críticas, mas também por isso o Nobel da Literatura ficou ainda mais inconfundível.

E um dia José Saramago reinventou a sua escrita. Aconteceu quando trabalhava no romance “Levantado do Chão”. De repente as palavras não “tinham pressa de chegar”, o discurso ordenava-se naturalmente, sem seguir as regras da pontuação. Foi de repente e sem ser pensado, conta o escritor durante a entrevista a Ana Sousa Dias. Percebeu que tinha encontrado a sua voz, e construiu todos os futuros romances nessa singular oralidade, usando apenas a vírgula e o ponto, sinais de pausa, como lhes chama. As exceções são duas páginas breves de “As Intermitências da Morte”.

José Saramago sobre “As Intermitências da Morte”
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José Saramago sobre “As Intermitências da Morte”

O autor, ele mesmo, recorda esse momento único em que os seus parágrafos começaram a ser corridos, “um fluxo verbal” que parecia música. Era a redescoberta da cadência dos contadores da tradição popular; “a imprimir ao discurso escrito o ritmo do discurso oral”.

“Memorial do Convento”, de José Saramago
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“Memorial do Convento”, de José Saramago

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Ficha Técnica

  • Título: Por Outro Lado
  • Tipologia: Extrato de Programa - Entrevista a José Saramago, Prémio Nobel da Literatura
  • Autoria: Ana Sousa Dias
  • Produção: RTP
  • Ano: 2005