Barragem de Alqueva: quando o Guadiana inundou a planície
Antes do Alqueva a terra era seca, praticava-se uma agricultura de sequeiro e alguma de subsistência; culturas pobres e limitadas pela escassez de água. Depois, quando o Guadiana chegou à planície, outra história começou para o Baixo Alentejo com o maior lago artificial da Europa. E neste caso, o comparativo de superioridade aplica-se com inteira justeza: uma albufeira com 250 quilómetros e mais de 1100 quilómetros de margens, é obra sem igual no velho continente.
O projeto começou a ser delineado em 1950, contudo, o Alqueva foi obra a conta-gotas, com avanços, recuos e alvo de muitos protestos ambientalistas. Meio século depois, as comportas da barragem foram fechadas e as águas do Guadiana transformaram a paisagem e a economia do Baixo Alentejo, com valor acrescentado na agricultura e no turismo.
A abertura de canais de rega com uma extensão de centenas de quilómetros, não só providenciou o abastecimento das populações como permitiu uma segunda reforma agrária. A terra passou a ser trabalhada de outra forma, com novas técnicas e tecnologias. Onde antes se fazia uma cultura de sequeiro, passou a fazer-se uma cultura de regadio: plantaram-se olivais, vinha, milho, árvores de fruto, produtos hortícolas, leguminosas e algodão. A agricultura transformou-se num negócio rentável, atraindo centenas de investidores nacionais e estrangeiros.
Mas o grande lago passou a ser cobiçado também para o turismo. Novos empreendimentos surgiram por perto, sobretudo nos cinco concelhos percorridos pela obra: Reguengos de Monsaraz, Portel, Moura, Mourão e Alandroal. Nas águas azuis a perder de vista, somam-se atividades recreativas, náuticas e aquáticas, que podem prejudicar os habitats de refúgio e de proliferação de várias espécies que existem nas centenas ilhas formadas com o enchimento da albufeira, a ocupar 25.000 hectares de planície alentejana.
Os que menos beneficiaram com a construção da maior reserva estratégica de água da Europa, foram os habitantes da Luz: a velha aldeia, onde sempre viveram, foi sacrificada ao projeto. Em 2002 foram transferidos para uma nova aldeia, a dois quilómetros do sítio a onde nunca mais poderão voltar. As memórias dos luzenses e da sua aldeia submersa, perpetuam-se agora em três salas de exposições do Museu da Luz, fundado um ano depois da grande mudança.
Ficha Técnica
- Título: Telejornal - "Os efeitos da construção da barragem do Alqueva no Alentejo"
- Tipologia: Reportagem Telejornal
- Produção: RTP
- Ano: 2002