Eu, freira: do que se faz uma vocação
Apesar de serem cada vez menos, a fé continua a chamar mulheres a uma vida de renúncia do mundo material. A caminhada vocacional de uma freira implica opções nem sempre compreendidas com facilidade, quer pelas famílias, quer pela sociedade, como testemunham nesta reportagem.
Entre as que tomam a opção por uma vida consagrada a Deus, há especialistas em direito, artistas plásticas, parteiras, mulheres que sentiram o apelo à entrega da sua vida ao divino. Uma existência que passa a ser orientada para os outros, no qual o despojamento pessoal faz mais sentido do que a vida familiar ou profissional. O caminho da fé é acima de tudo do domínio do sentir e o chamamento nunca é fácil de explicar. Para as famílias pode ser uma opção de orgulho ou de profunda estranheza.
Para as que fazem escolhas mais radicais, ao optarem por vidas dedicadas ao recolhimento total, a dificuldade de entendimento é ainda maior. Nesta reportagem, foi permitida a entrada em vários mosteiros de clausura onde se tenta compreender a liberdade que pode existir numa vida escolhida atrás das grades e em afastamento total do mundo exterior. São, sobretudo, mulheres de oração, que se veem como uma espécie de retaguarda de todos os que estão na linha da frente do bem ao próximo.
Os votos de castidade, pobreza e obediência exigem uma entrega ímpar. Uma escolha cada vez mais difícil no atual contexto social, o que se tem refletido no fim de várias congregações católicas em Portugal. É a chegada de noviças e freiras de África que tem ajudado as ordens religiosas a manterem abertas as portas de alguns conventos. Em Portugal, são cerca de duas mil as freiras que estão ao serviço em hospitais, lares e escolas, mas há também quem escolha encerrar-se em silêncio, num corte radical com as vivências familiares e profissionais. São menos de 300, as mulheres que, no país, vivem em clausura.