Eugénio de Andrade – o poeta também foi prosador

Escreveu sempre procurando a palavra exata, poesia e prosa no mesmo rigor obstinado, exigência imposta e cumprida a cada poema, a cada texto. Como um ritual, a manifestar o seu amor à língua, única herança que Eugénio de Andrade reclamava. Os versos, sobretudo curtos, despidos de adjetivos, conduzidos por uma melodia silábica, são matéria da obra extensa e premiada, reconhecida e traduzida em mais de vinte línguas. O mais que tinha a dizer guardou-o para esse outro registo, onde o poeta que “vivia sem ruído”, à margem da exposição social, revela um pouco mais de si. Na pele de prosador construiu um mapa de afetos, memórias, confissões, para falar do seu ofício, dos escritores e artistas que admirava e daqueles que menos elogiava, da cidade do Porto onde exerceu a profissão de inspetor-administrativo e viveu, acompanhado de flores e de gatos. 

Os três livros – “Os Afluentes do Silêncio” (1968), “Rosto Precário” (1979), “À Sombra da Memória” (1993) –  reeditados num só volume, reúnem depoimentos, entrevistas, discursos, testemunhos, intervenções várias que fez. Um complemento da poesia, reflexões do seu mundo estético reveladas com grande clareza, refere Frederico Bertolazzi, autor do prefácio. Numa frase citada de cor, o professor universitário devolve-nos a dimensão do sacrífico da escrita de Eugénio de Andrade. Do empenhamento do poeta intransigente com a mediocridade, recorda. Sobrevivem-lhe as palavras que recolheu numa vida.

A poesia se não for o lugar onde o desejo ousa fitar a morte nos olhos é a mais fútil das ocupações.

“As Palavras Interditas”, de Eugénio de Andrade
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Fernando Pessoa, o poeta revisitado pelo seu biógrafo
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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2022