José Saramago e a “súbita serenidade”de ser Nobel
Quando naquele outubro do ano de 1998 a Academia Sueca reconheceu José Saramago, o escritor português estava no aeroporto de Frankfurt, a poucos minutos de embarcar num avião que o levaria a Madrid. Subitamente ouviu o seu nome ser chamado pelos altifalantes para atender o telefone com urgência. Do outro lado, o seu editor, com a melhor notícia de sempre. E Saramago a insistir que ia para casa, partilhar o maior galardão com o grande amor da sua vida.
O prémio tardava em chegar. Nos últimos anos, o veredicto do júri de Estocolmo desapontava o escritor que, na bagagem, levava obra longa e reconhecida, produzida em rigorosa disciplina. Estaria ou não à altura do galardão literário mais importante do mundo? À dúvida que se instalava e o desassossegava, respondia com mais páginas escritas. Dentro de si, guardava ainda a força do rapazinho descalço nas ruas da Azinhaga, que acreditava que às suas mãos iria parar aquilo que havia de ser seu.
Naquela quinta-feira de outubro cumprira já José Saramago os seus deveres na Feira do Livro de Frankfurt. De mala feita, preparava-se para regressar a casa. Mas a bagagem não estava completa, faltava o prémio que qualquer escritor gostaria de receber. A boa nova havia de chegar pela voz do editor, Zeferino Coelho. O momento de alegria deu lugar a uma súbita serenidade, descreve Saramago, na entrevista que concedeu à RTP, pouco depois de saber que era o primeiro escritor português laureado com o Nobel da Literatura.
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Ficha Técnica
- Título: José Saramago nomeado Prémio Nobel da Literatura
- Tipologia: Entrevista
- Autoria: Florbela Godinho
- Produção: RTP
- Ano: 1998