Joseph Estaline: o ditador e os livros
Não precisamos de consultar a biografia de Joseph Estaline para saber que foi um tirano sanguinário, que durante três décadas liderou a União Soviética com uma política de terror. O que ainda não sabíamos é que este ditador, responsável pela morte de milhões de pessoas, era também um leitor. É desta sua relação com os livros que trata a reportagem que aqui trazemos.
Estaline gostava de ler e lia muito. Ao mesmo tempo que espalhava o terror, alimentava a alma com ensaios, tratados, ficção. Eclético na escolha, tinha a História como tema preferido. Depois, Ciência Política, diplomacia e estratégia militar. Mas, na sua biblioteca com mais de 20 mil volumes, também havia desporto, psicologia, religião. Na literatura, os russos, claro, à frente dos autores estrangeiros. Tolstoi e Dostoievski, em primeiro lugar.
Nestas leituras, o ditador, cujos rivais do mesmo partido comunista qualificavam de medíocre e grosseiro, procurava dar dimensão intelectual ao seu retrato de líder poderoso. Faltava-lhe o brilho dos grandes teóricos da revolução soviética, no íntimo sabia-se inferior a Lenine e Marx. As ideias dos outros disfarçavam a falta de pensamento profundo, davam-lhe argumentos para o seu projeto socialista. Ou, como realça Carlos Vaz Marques, Estaline ia buscar aos livros reforço para o seu ímpeto bolchevique. E o mais trágico, salienta o jornalista e editor na peça, é que foram estas ideias que o conduziram a uma política de repressão. Um regime desumano.
Na prática, lia para confirmar convicções e, seguramente, aprender com os que mais admirava. A estes dirigia palavras de aprovação, anotadas nas páginas lidas com fervor. O homem que não escrevia nada que fosse pessoal, sentia-se livre para o fazer nos livros dos outros. Sublinhava-os, tecia comentários, ridicularizava quem desprezava.
As leituras não fizeram de Joseph Estaline uma personagem menos terrífica. Embora a recente biografia do historiador irlandês Geoffrey Roberts o apresente como um qualquer leitor empenhado, jamais essa faceta apagará o lado sombrio do infame ditador. Como ele, também Hitler usou a literatura para fazer do mundo um sítio pior. Afinal, como lembra Carlos Vaz Marques a fechar a peça, os livros são aquilo que cada leitor fizer com eles.
Ficha Técnica
- Título: Nada Será Como Dante
- Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
- Produção: até ao Fim do Mundo
- Ano: 2023