“Mein Kampf”- o ódio de Adolf Hitler anunciado ao mundo

Escrito na prisão, este é o livro maldito que sustentou a ideologia nazi e todo o horror do Holocausto. Dois volumes, mais de 700 páginas, a revelarem por inteiro as intenções do homem que queria dominar o mundo. Se a primeira parte é sobretudo preenchida com a autobiografia do artista frustrado, a segunda é um breviário racista, um incitamento à violência e ao ódio contra os judeus, apontados como os grandes inimigos da raça ariana e do povo alemão. Proibido depois da queda do III Reich, "Mein Kampf" voltou a ser republicado em 2015, quando os direitos da obra entraram em domínio público. O politólogo António Costa Pinto fez a introdução à edição portuguesa de "A Minha Luta".

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, ninguém queria ser visto ou apanhado com o livro que conduzira à pior tragédia da história do século XX. De inspirador, o manifesto político de Adolf Hitler passou a maldito e, os cerca de 12 milhões de exemplares que circulavam na Alemanha foram destruídos ou, simplesmente desapareceram de um dia para o outro. A obra que a máquina de propaganda do Führer transformara em best-seller era agora considerada perigosa pelas autoridades alemãs, por isso, a republicação do texto original nunca mais foi autorizada pelo governo regional da Baviera, titular dos direitos de autor que, durante 70 anos, procurou desta forma impedir que “Mein Kampf” voltasse a semear ódios dentro e fora do país.

No entanto, sempre se encontraram edições, mais ou menos clandestinas e um pouco por todo o mundo, do livro que Hitler decidiu escrever para ocupar os dias na prisão de Landsberg, onde, juntamente com outros dirigentes do partido nazi, foi encarcerado após o fracasso do golpe de estado, de novembro de 1923.

Apesar de condenado a cinco anos pelo crime de alta traição – pena que não chegou a cumprir devido a um perdão entretanto concedido -, o futuro ditador era um preso especial, com direito a pequenos luxos proporcionados pelos simpatizantes que tinha na cadeia. Entre as festas que dava e as visitas diárias que recebia na cela individual, limpa e arejada, teve ainda acesso a máquina de escrever, papel, lápis, borrachas. O plano seria preparar a sua defesa, explicar os motivos da revolta, mas o líder do Partido Operário Nacional-Socialista encontrou um projeto mais ambicioso e grandioso, o de partilhar com o mundo as suas ideias para o dominar.

O manifesto, elaborado no mesmo tom inflamado dos discursos, começou por chamar-se “Quatro Anos e Meio de Luta Contra Mentiras, Estupidez e Covardia”, quando surgiu nos escaparates em 1925, o título resumia-se a um simples e direto “Mein Kampf” – “A minha Luta”. Curiosamente, o livro vendeu-se pouco. Os dois pesados volumes tiveram de esperar que o seu autor subisse ao poder para se transformarem num sucesso. A bíblia nazi tornou-se leitura quase obrigatória, pelo menos era um dever saber de cor passagens da prosa que fomentava ódios e fazia a fortuna de Hitler crescer, ao ponto do ditador dispensar o salário de chanceler.

Setenta anos depois da queda do III Reich, os direitos do livro que contribuiu para o extermínio de milhões de judeus entraram no domínio público. A versão original voltou a ser publicada em vários países, incluindo Portugal. António Costa Pinto, especialista em sistemas autoritários e fascistas, escreveu a introdução à edição portuguesa de “Mein Kampf”. Defende o politólogo que a doutrina de Hitler é uma peça de escasso valor, sem capacidade para mobilizar ou influenciar. Há quem continue a defender exatamente o contrário, quem tema que este panfleto banal possa, de novo, dar origem ao mal.

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Ficha Técnica

  • Título: Literatura Aqui
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2015