Maria Teresa Horta e a aventura das Novas Cartas Portuguesas

Militante da causa feminina, escritora e poetisa, Maria Teresa Horta foi perseguida pela PIDE com livros censurados. Um deles, Novas Cartas Portuguesas, escrito a três mãos, mobilizou a opinião pública contra o Estado Novo. É desta obra que aqui se fala.

Escrever num tempo em que a liberdade faltava foi um risco que Maria Teresa Horta nunca se importou de correr. Nem a sua condição feminina numa sociedade que só contava com a mulher para ser dona de casa a tornou refém. Nem quando foi espancada por três homens por causa da sua poesia erótica, sentiu medo. “É para aprenderes a não escreveres como escreves”, disseram-lhe enquanto a agrediam. Teve o efeito contrário: atreveu-se a escrever mais, a não desistir da vocação e do estilo polémico, que afinou com o tempo.

É na sequência do escândalo provocado pela obra “Minha Senhora de Mim”, que três amigas escritoras decidem mexer com tabus e puritanismos vigentes para reivindicar o direito da mulher a ter corpo e pensamento. Em 1971, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa começaram a trocar aquelas que seriam as “Novas Cartas Portuguesas” – as velhas teriam sido escritas por Mariana Alcoforado, uma freira enclausurada por amor no século XVII -,  publicadas um ano depois devido à coragem de outra mulher, Natália Correia, responsável pela  editora Estúdios Cor. Os textos são individuais, porém as autoras abdicaram de os assinar, mantendo-se até hoje o seu anonimato, um pacto que nunca quebraram.

A obra, um documento político como o eram quase todas as  publicações na época, foi considerado pela censura como um livro “pornográfico e atentatório da moral pública” e proibido de circular. As autoras, sujeitas a um processo judicial, tiveram o apoio de escritores e pensadores ligados ao movimento feminista e não só. O caso mobilizou a opinião pública internacional, realizaram-se manifestações de solidariedade coletiva às “três  Marias”, como recorda neste vídeo Maria Teresa Horta.

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Retirado do circuito comercial e destruído pela PIDE, o livro, tido como um marco da história da literatura portuguesa e dos direitos humanos, praticamente caiu no esquecimento em Portugal. Também pela sua modernidade voltou a ter um lugar de destaque a partir de 2011, quando foi reeditado numa edição especial, anotada e prefaciada pela professora Ana Luísa Amaral. Um documento para as novas gerações lerem e explorarem em sala de aula.

 

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