“O Amante”: o amor segundo Marguerite Duras

O livro ergue-se das memórias como um ato de resistência à passagem do tempo. Marguerite Duras tem 70 anos e a generosidade de se partilhar ou, simplesmente, uma absoluta necessidade de revelar a história de um amor nunca esquecido, impossível e transgressor. “Escrevi este livro na felicidade louca de escrevê-lo”, afirmaria depois.

Nestas páginas, a autora reencontra-se com a infância na Indochina, regressa às paisagens do rio Mékong, aos cheiros, sons e cores daquele mundo que um dia fora o seu. E a ele, ao seu jovem amante da China do Norte. Como imagens retiradas de um álbum de fotografias, vívidas, intactas, Duras surge à nossa frente: tem 15 anos e meio, “é pequena, magra, astuciosa (…) filha de pobres” e sabe o que lhe vai acontecer quando entrar no automóvel negro. Esta dimensão autobiográfica trouxe-lhe êxito imediato e, pela primeira vez, o grande prémio Goncourt.

“Iam separar-se. Ela recorda-se de como falar era difícil, cruel. O desejo era muito forte e tornara as palavras impossíveis de encontrar. Não tinham voltado a olhar um para o outro. E evitaram as mãos, os olhos. Foi ele quem impôs o silêncio. Ela depois disse que em si mesmo aquele silêncio, as palavras que afastava, a sua pontuação, e a distração, e o jogo também, a infância desse jogo e daquelas lágrimas, tudo poderia ter levado a decidir imediatamente que se tratava de um amor. Continuam a andar de carro durante bastante tempo. Sem voltarem a falar. A criança sabe que não vai dizer mais nada. Ele sabe por ela da mesma maneira.
A história já ali está, inevitável.
A história de um amor deslumbrante,
sempre por vir,
nunca esquecido.”

Um excerto de “O Amante”, a história de amor deslumbrante que hipnotizou a jornalista Alexandra Lucas Coelho. Vamos saber porquê.

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