O desafio de traduzir Kafka

A escrita é simples na forma gramatical, mas o significado do que escreve este autor nascido em Praga tem sentidos menos explícitos, enredados em labirintos. Fantásticos, obscuros, por vezes a roçar o absurdo, desconcertam. Mesmo o experiente tradutor, habituado a seguir-lhe os textos, palavra a palavra. Aconteceu a António Gonçalves, que assumiu o desafio de respeitar a singularidade dos parágrafos longos.

A história do homem que acordou transformado em inseto é a mais conhecida. No entanto, a ideia de metamorfose está muito presente na escrita de Franz Kafka. Estranhos bichos, reais ou por ele inventados, são objeto de experimentação do pensamento, de transgressão. Servem para questionar desejos, medos que atormentam este autor de ascendência judaica, nascido em 1883, em Praga. 

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A questão do judaísmo é, aliás, para António Gonçalves, transversal na obra kafkiana. Responsável pela tradução completa dos contos do escritor, assumiu a missão com o compromisso de respeitar os parágrafos extensos, característica que sobressai nos textos, longos ou curtos, determinante nas leituras que deles fazemos.  

Habituado ao inexplicável universo do autor, às situações desconcertantes apresentadas em forma de fábulas, alegorias, parábolas, aforismos, António Gonçalves enfrentou, desta vez, um outro desafio além da estilística. As palavras de Kafka reencontradas no conto “A Toca” tiveram sobre si um efeito inesperado, perturbador. De repente, o medo da criatura perdida em labirínticas escavações, era já o seu.  

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2023