“Os Versículos Satânicos” e uma sentença de morte para Salman Rushdie

No dia 14 de fevereiro de 1989 Salman Rushdie recebeu uma ameaça real e radical do ayatollah Khomeini. O antigo líder supremo do Irão emitiu uma fatwa, ou seja, proclamou uma sentença de morte contra o autor dos “Versículos Satânicos”. Ao mesmo que tempo incitava muçulmanos do mundo inteiro a executarem a ordem e, a quem o conseguisse matar, oferecia-se uma recompensa de cerca de três milhões de dólares.

Gerou-se uma onda de intolerância que descambou em violência, boicotes, insultos e, mais tarde, em múltiplos atentados: todas as pessoas que, de alguma forma, estivessem ligadas à obra, passaram a ser as novas vítimas da fatwa. O tradutor japonês acabou morto à facada. O livro foi amaldiçoado, proibido – ainda hoje continua interdito na Índia, terra natural de Rushdie -, mas poucos sabiam do que tratava realmente aquele romance que queimavam em fogueiras na praça pública.  

Romance de Salman Rushdie a ser queimado em Inglaterra, em 1989

Com a cabeça a prémio, perseguido pelo fanatismo religioso islâmico, o escritor perdeu a liberdade. Os anos que se seguiram foram um tormento, com mudanças constantes de casa ou, talvez sirva melhor a imagem de esconderijos secretos, protegidos por guarda-costas. O perigo espreitava a cada esquina, mas a clandestinidade não servia ao homem que sempre defendera o direito a ser um escritor livre. Contra quem o queria silenciar, continuou a publicar.

Um ano depois surgia novo livro seu e, a partir de 92, Rushdie recomeçou a participar em eventos públicos, mesmo que, no início, o fizesse sem aviso prévio. Aos poucos, a vida retomava a normalidade, porém, em pleno século XXI, o passado voltou a atormentar Salman Rushdie. No dia 12 de agosto de 2022 um jovem fanatizado esfaqueou o autor de um romance que nunca leu. Se o tivesse feito saberia que mais do que sobre o Islão, este romance é sobre imigração e racismo, esclarece Alexandra Lucas Coelho.

Retomamos aqui a história dos “Versículos Satânicos”, deste livro que se transformou num símbolo da liberdade de expressão. Fica a pergunta: O que se escreve ou diz pode ofender tanto ao ponto de alguém ter vontade de matar? 

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