Quando a multiplicação por zero leva a investigar o que não se vê
Para Maria de Sousa foi um caso sério aprender na primária que os 12 lápis que ali via desapareceriam se multiplicados por zero. Para lá do trauma, foi aí que percebeu que há outras coisas que não são as que se vêem. São essas que continua a procurar.
Maria de Sousa é investigadora em Imunologia e professora emérita na Universidade do Porto.
Atrás de si tem uma carreira sólida de investigação, que a levou a ser a primeira cientista portuguesa a publicar na “Nature” em 1966 e a poder contar a façanha de ter recebido uma carta em que o Prémio Nobel Peyton Rouf a parabenizava pelo artigo. Este versava sobre a descoberta de mapear o que é hoje vulgarmente conhecido como área T em órgãos linfóides periféricos, gânglios e baço.
O humanismo que rege a sua carreira revela-se na escolha de um poema de W. H. Auden, em que este diz que ninguém quer saber do amor universal porque as pessoas querem ser amadas sós, só elas. É este amor universal de que não abre mão que a faz também dizer que o grande desafio é assegurar que as pessoas não morrem estando vivas, que continuam a acreditar que podem ver o não visto. É isto que a faz continuar a investigar, para o bem comum.