“Sabedoria”, de José Régio

Escritor do modernismo português, a obra poética de José Régio assume um tom místico e confessional nas reflexões que faz sobre temas universais. Do seu primeiro livro " Poemas de Deus e do Diabo", de 1925, ouvimos a atriz Joana Carvalho dizer "Sabedoria".

Sabedoria

Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança…
E venha a morte quando
Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara:
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar…
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam, brilhando, altas e belas.

José Régio in Poemas de Deus e do Diabo

José Régio, entre Deus e o Diabo
Veja Também

José Régio, entre Deus e o Diabo

“Nada Fica de Nada. Nada Somos”, de Ricardo Reis
Veja Também

“Nada Fica de Nada. Nada Somos”, de Ricardo Reis

 

 

José Saramago sobre “As Intermitências da Morte”
Veja Também

José Saramago sobre “As Intermitências da Morte”

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Um Poema Por Semana
  • Tipologia: Programa de Poesia
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2011