“Três Irmãs”: o prenúncio da revolução numa peça de Tchékhov

Na terra dos autoritários czares, dominada pelas desigualdades, cheia de pobres e de condenados que o autor da peça conheceu e tratou enquanto médico, nada voltará a ser como dantes. No meio de uma crise profunda, as personagens de Anton Tchékhov sufocam dentro das suas pequenas vidas, demasiado entediadas, demasiado melancólicas, demasiado distantes da realidade. Representam a aristocracia, a classe que nunca precisou de trabalhar e não admite as regras do jogo alteradas. Mas a mudança é como uma enorme vaga a avançar, pressente o barão Nikolai Lvovitch no drama de Tchékhov.  

Edição original de “Três Irmãs”

No início, a peça foi vaiada, causou estranheza. Não por conter o prenúncio de revolução que havia de acontecer anos depois, em 1917, simplesmente por apresentar em palco pessoas a portarem-se como pessoas reais, lembra a jornalista Alexandra Lucas Coelho. Desconcertou o público ver estas personagens enfrentarem com tanta facilidade e naturalidade o limite dos seus dias, a devolverem perguntas duradouras e recorrentes, as mesmas que se colocam ainda hoje, ou não fosse esta obra um clássico da literatura. Qual o sentido da vida? Como podemos ser felizes? O que traz o futuro? Para as “Três Irmãs”, de Tchékhov, as respostas vão dar sempre a Moscovo, como uma eterna metáfora.

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