Violência no namoro: uma prova de desamor

Idealizam amores perfeitos, mas há adolescentes que conhecem uma realidade bem menos romântica. Se no início as relações são cor-de-rosa, rapidamente os namoros podem ficar uma coisa má e estragada. Insultar, agredir, proibir, ameaçar e perseguir são comportamentos violentos que muitos jovens encaram com normalidade. Para eles, são manifestações de amor. Para a justiça, crimes que devem ser denunciados.

Numa relação de amor saudável não há gritos, insultos, ameaças, humilhações, empurrões, pontapés ou quaisquer outras formas de agressões, sejam elas psicológicas ou físicas. Não se proíbe o namorado ou a namorada de vestir uma determinada peça de roupa ou de falar com amigos. Em momento algum se pode pressionar ou obrigar a ter relações sexuais. E nunca se deve invadir a privacidade, como ler as mensagens de telemóvel, entrar na conta de uma rede social sem autorização ou ir ainda mais longe e partilhar online conteúdos íntimos sem conhecimento da vítima.

Todos estes comportamentos reprováveis, impróprios em qualquer idade, são tolerados, legitimados e até entendidos como demonstrações normais de amor e carinho pelos rapazes e raparigas vítimas de violência no namoro. São adolescentes a viver as primeiras paixões, vulneráveis e inexperientes, que querem a todo o custo manter o namoro perfeito mas não conseguem controlar emoções provocadas, por exemplo, pelo ciúme ou pela traição. Muitos não percebem que o que fizeram ou disseram constitui uma agressão; outros não têm consciência que estão numa relação abusiva e nem reconhecem que são vítimas.

Este amor tóxico defendido com a inocência da juventude, tem números assustadores. Em 2014, a Universidade do Minho inquiriu cinco mil jovens e concluiu que uma em cada quatro relações de namoro era marcada pela violência, 18% confessaram que foram vítimas de comportamentos físicos agressivos, quase 7% sofreram murros, sovas ou pontapés.

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Não, não se tratam de pequenos arrufos entre namorados. Chegam a ser feitas ameaças de morte. Entre 2013 e 2016 foram reportados ao Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses 16 casos de facadas e 59 de estrangulamento. Os hematomas desaparecem, as marcas a nível psicológico e emocional, essas, provocam danos para sempre.

E se estes comportamentos se perpetuarem no futuro? Existe uma forte probabilidade dos agressores continuarem a agredir quando são adultos e de as vítimas nunca se libertarem do papel de vítimas, mantendo assim uma cultura de violência entre homens e mulheres que sabemos todos como termina. Em finais infelizes.

Por isso é tão importante fazer prevenção nas escolas, ensinar às crianças noções básicas de respeito, igualdade. E quanto mais cedo melhor, porque a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima já recebeu queixas de meninas com apenas 11 anos. O que estes jovens não sabem, é que a responsabilidade criminal começa aos 16 anos mas a partir dos 12 já podem responder perante a justiça num tribunal cível ao abrigo da Lei Tutelar Educativa. Afinal, a violência no namoro é um crime.

Nesta reportagem, recolhemos declarações de Sónia Caridade, psicóloga e investigadora da Universidade do Minho.

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Ficha Técnica

  • Título: Violência marca namoro de adolescente
  • Tipologia: Reportagem
  • Autoria: Filipe Pinto/ Cristina Freitas
  • Produção: RTP
  • Ano: 2008