A participação portuguesa na I Guerra Mundial
Com a participação na Primeira Guerra Mundial ao lado da Inglaterra e dos restantes Aliados, Portugal procurou manter a posse das colónias, consolidar o reconhecimento do regime republicano e impedir a perda da identidade nacional. Enviando tropas primeiro para África, depois para a Flandres, procurou-se assegurar um lugar à mesa das negociações no pós-guerra. Mas os custos humanos e materiais destruíram a já frágil confiança no regime republicano.
Após o assassinato do herdeiro do trono Austro-Húngaro em junho de 1914, as declarações de guerra sucederam-se: a Áustria declarou guerra à Sérvia, aliada do Império Russo; seguir-se-ia a entrada no conflito da Triple Entente (os Aliados). Por seu turno, ao lado da Áustria mobilizou-se a Alemanha (as Potências Centrais).
Em breve toda a Europa era afetada pela guerra, pois mesmo os países ainda neutrais viam o seu comércio e finanças prejudicados – em Portugal, registou-se a subida de preços e as populações correram aos bancos para levantar o seu dinheiro.
Após a Revolução de 1910, a Inglaterra fora o primeiro Estado europeu a reconhecer o regime republicano português, em 1911, e era um importante apoio internacional para Portugal. Mas em 1914 não encorajou a declaração de guerra de Portugal à Alemanha, pois não garantia a sua defesa ou a das colónias. Em agosto de 1914, o Governo republicano de Bernardino Machado reafirmou no Congresso da República a aliança com a Inglaterra, mas sem que houvesse declaração formal de guerra.
As opiniões dos movimentos políticos portugueses sobre a participação de Portugal no conflito dividiam-se: os Evolucionistas só a aceitaram claramente a partir de 1916; Democráticos como Afonso Costa afirmavam que os portugueses deviam participar nos combates, ao lado dos ingleses; os monárquicos chegaram a revoltar-se contra a intervenção portuguesa; os Unionistas eram favoráveis à neutralidade condicional de Portugal, defendendo militarmente as posições portuguesas em África e mantendo a aliança com a Inglaterra. Esta foi a via escolhida pelo Governo.
O Governo português tratou de enviar tropas para África, onde forças militares alemãs ameaçavam as colónias de Angola e Moçambique, onde chegou a haver incursões. As pretensões da Alemanha às colónias portuguesas vinham de trás: em 1898, e de novo em 1913, ingleses e alemães celebraram um tratado em que previam a divisão entre si das colónias portuguesas de Angola, Moçambique e Timor. Tal divisão foi evitada pela diplomacia portuguesa junto da Inglaterra, mas com a guerra, o perigo ressurgiu. E Portugal, em 1914, já enfrentava a Alemanha em África.
Além de procurar manter a posse das colónias, a participação portuguesa na guerra poderia contribuir para consolidar o reconhecimento do regime republicano, há pouco tempo no poder, dentro e fora do país e impedir que uma aproximação entre a Inglaterra e a Espanha pusesse em risco a independência de Portugal.
A França viria a solicitar a participação da infantaria e artilharia portuguesas, e o Foreign Office inglês convidou Portugal a fazer parte dos Aliados em outubro de 1914, o que o Congresso Português viria a aprovar em novembro.
No final do ano de 1915, a Inglaterra pediu a Portugal que apreendesse os navios mercantes alemães nos seus portos, incluindo os das colónias e ilhas, o que aconteceu em fevereiro, em Lisboa, sendo apresadas cerca de 70 embarcações. A Alemanha declarou guerra a Portugal a 9 de março de 1916.
Apesar da resistência de grupo políticos e militares, Norton de Matos e Tamagnini organizaram a Divisão de Instrução em Tancos, da qual resultou o Corpo Expedicionário Português (CEP), que iria lutar pelo bloco aliado. Os soldados partiriam, mas mal preparados – o seu treino, equipamento e armamento revelaram-se insuficientes para fazer face às dificuldades da guerra.
Em janeiro de 1917 partiu o primeiro contingente, para a Flandres. Muitos dos soldados portugueses seriam vitimados pelos gases tóxicos, pelo combate homem a homem e pelas deploráveis condições em que viviam meses a fio, nas trincheiras, sem serem substituídos. O agravamento dessas condições levaria a um motim no campo de batalha em abril de 1918, mês em que as tropas portuguesas, que se preparavam para ser finalmente substituídas, sofreram terríveis bombardeamentos por parte da artilharia alemã. Os sobreviventes seriam remetidos para a retaguarda dos Aliados, integraram as forças inglesas ou foram limitados a escavar trincheiras.
O elevado número de mortes tornara a guerra cada vez mais impopular em Portugal, onde se agravavam dificuldades – a falta de alimentos, a inflação, o desemprego e no final da guerra uma dívida pública de 25 milhões de libras.
A tudo isto sobreveio a gripe pneumónica de 1918, que provocou dezenas de milhares de mortos. Multiplicavam-se as greves, os assaltos, a agitação das populações urbanas, dando força aos opositores do Governo do Partido Democrático e da guerra: a Igreja, os monárquicos, os socialistas, parte do exército, os outros partidos. O Governo reagiu com perseguições e prisões, diminuindo ainda mais as suas bases de apoio. As colónias e a autonomia portuguesa foram asseguradas, mas a Primeira República não resistiria por muito mais tempo.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Descrever sucintamente a participação de Portugal na 1ª Grande Guerra.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/Sofia Condesso
- Ano: 2021
- Imagem: Serviço de ambulâncias do CEP, Revista Portugal na Guerra