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A perseguição aos judeus na Europa do renascimento

A perseguição aos judeus na Europa do renascimento

Na Europa cristã, a desconfiança face aos judeus levou a que sofressem medidas de discriminação, a que fossem culpabilizados e perseguidos em momentos de crise, como fomes ou pestes. Em Portugal, foram segregados em Judiarias e sujeitos a impostos específicos, mas foi a partir de finais do século XV que foram convertidos à força, perseguidos, expropriados e condenados a castigos físicos ou à morte, por ação da Inquisição. Milhares foram vítimas do massacre de Lisboa, em 1506.

No mundo cristão, cedo os judeus começaram a ser responsabilizados pela morte de Jesus, um dos argumentos para justificar o preconceito e a hostilidade contra esta comunidade, o que perdurou ao longo de séculos.

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Pela Europa, quando sucediam calamidades naturais, pestes ou fomes, muitas vezes eram responsabilizados os judeus, e como tal foram perseguidos, expulsos ou mesmo mortos, individual ou coletivamente, em pogroms (ataques massivos, com o acordo das autoridades).

A presença judaica na Península Ibérica, ou Sefarad, data de antes da era cristã. Durante a dominação muçulmana da Península, aos judeus foi permitida a convivência pacífica com muçulmanos e cristãos, mas à medida que se foi processando a Reconquista cristã, foram reduzidos os seus direitos, forçados a migrações e expulsões, fenómenos frequentes na diáspora judaica. Os judeus foram igualmente objeto de segregação, sendo separados da população cristã, nas judiarias (as mais importantes foram as de Lisboa, Porto, Lamego, Santarém e Évora).

Em Portugal, os judeus gozavam de relativa autonomia e de alguma proteção da Coroa, a que emprestavam elevadas quantias, não deixando de ser obrigados a impostos elevados, alguns dos quais só eles pagavam.

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A hostilidade aumentou após as Cruzadas e os sinais de discriminação foram-se avolumando: pelo Concílio de Latrão de 1215, e tal como os muçulmanos, seriam obrigados a usar vestes que os distinguiam dos cristãos, a sua prática de usura foi condenada, os casamentos com cristãos proibidos.

A intolerância por motivos religiosos agravava-se: a Igreja Católica procurou reprimir as heresias e a feitiçaria, e no século XIII, o Papa Gregório IX fundou a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício, em Espanha, Alemanha e França, procurando ultrapassar algumas falhas da inquisição episcopal, que datava do século XII. Este Tribunal devia mandar perseguir e encarcerar, fazer converter ou punir todos os que considerasse que de algum modo ameaçavam o seu poder espiritual.

Já na Idade Moderna, em 1492, foram expulsos de Espanha cerca de 150 mil judeus, muitos dos quais se refugiaram em Portugal, aumentando a tensão. Em 1496, D. Manuel publicou o Édito de Expulsão e se muitos se converteram ao cristianismo, muitos outros fugiram em direção à Europa, Norte de África, Ásia ou Américas. Os que permaneceram e se converteram, por vezes em batismos forçados, nomeadamente de crianças retiradas aos pais, seriam denominados cristãos-novos.

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Em 1506 deu-se a matança dos judeus em Lisboa, a partir de um incidente na igreja do Convento de S. Domingos: um cristão-novo duvidou das palavras de um sacerdote dominicano, que apregoava um brilho milagroso de uma cruz. Em ano de seca e de peste, os cristãos, desejosos de um bode expiatório, culparam os judeus, iniciando uma perseguição e execução em massa.

O rei D. Manuel viria a castigar os frades que incitaram à violência, cerca de 50 amotinados e o próprio município de Lisboa. Mas muito judeus efetivamente deixaram Portugal – o velho argumento da sua responsabilidade pela morte de Cristo, o sucesso financeiro, cultural e social dos cristãos-novos aumentavam a desconfiança e a hostilidade em seu redor.

Entretanto, recrudesceu a ação do Tribunal da Santa Inquisição, reagindo às críticas à Igreja Católica no âmbito da Reforma Protestante. A introdução do Santo Ofício em Portugal foi pedida ao Papa por D. Manuel I, em 1515, e autorizada em 1536, no reinado de D. João III.

Em 1540, instituiu-se a censura prévia e em 1547 publicou-se o primeiro Index de livros proibidos. Assim, eram objeto de repressão outras crenças, a feitiçaria, e de vigilância a cultura, a ciência, a moral e costumes, enfim, tudo o que se considerasse estar em desacordo com os princípios da Igreja católica.

Na Península Ibérica, prolongou-se a perseguição aos protestantes, mas essencialmente aos cristãos novos e aos judeus. Nos processos inquisitoriais, o anonimato das testemunhas era protegido e as denúncias surgiam por variados motivos: vestir roupa lavada ao sábado (respeitando o Sabat, dia de descanso semanal no Judaísmo), não comer carne de porco ou não fazer jejum na Quaresma eram encarados como sinais de que secretamente se permanecia judeu.

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O interrogatório com tortura dos acusados era normal, de modo a obter confissões e mais denúncias. A sentença era proclamada em público, no auto de fé e as condenações podiam ser à prisão ou à morte (pelo garrote ou pela fogueira), passando pela penitência e apreensão de bens – as punições eram espirituais, físicas e materiais.

Muitos fugiram de Portugal, vindo a enriquecer, cultural e financeiramente, locais como a Síria, Turquia, Holanda, Itália, Inglaterra e França.

Síntese

  • Na Europa cristã, as desconfianças em relação à comunidade judaica agudizavam-se em períodos de crise.
  • Medidas de discriminação foram frequentes em diversos pontos e épocas.
  • Em Portugal, a hostilidade face aos judeus no final do século XV foi intensa.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Referenciar a intensificação das perseguições aos judeus que culminaram na expulsão ou na conversão forçada e na perseguição dos mesmos, com destaque para o caso português.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/Sofia Condesso
  • Ano: 2021
  • Imagem: Judeus queimados na pira, manuscrito belga século XIV, Museu da Diáspora de Telavive