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A aculturação resultante da expansão europeia

A aculturação resultante da expansão europeia

A expansão europeia levou a um fenómeno de aculturação, com a imposição da língua, da administração, dos costumes dos colonizadores, com a miscigenação e com a difusão do cristianismo. Alguns europeus, num processo de assimilação, integraram-se nas comunidades autóctones, adotando o seu modo de vida. O encontro de culturas passou pela alimentação, trajes, artes decorativas, crenças e costumes, modificando o quotidiano dos grupos humanos nos diferentes continentes.

No século XV iniciou-se um longo período de exploração europeia dos outros continentes. Os principais colonizadores começaram por ser os países ibéricos, seguidos por holandeses, franceses e ingleses.

Desde os primeiros contactos que houve interesse dos europeus em descrever o aspeto físico, os costumes, as crenças, a organização económica, social e política dos outros povos, destacando os aspetos que lhes causavam espanto, como o hábito de comer com pauzinhos, na China, ou a nudez, a poligamia, o canibalismo e a feitiçaria, entre os habitantes de África e do Brasil.

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Mas logo procuraram impor os seus valores civilizacionais, num processo de aculturação. A europeização decorreu de diferentes formas e teve diversos graus de impacto nas outras culturas. Naturalmente, a resistência à difusão da cultura europeia era maior quando as civilizações contactadas eram tecnicamente mais fortes, ou quando sofriam violências praticadas pelos colonizadores.

Um dos modos de aculturação resultou do facto de portugueses e espanhóis, entre outros, procurarem converter ao cristianismo as populações autóctones, provocando resistência e tensão, nomeadamente em África. Aí, o reino do Congo foi uma exceção, dando-se a cristianização da família real, a adoção do modelo português na administração, construção de fortificações e de cidades, assim como a educação de jovens congoleses em Portugal.

Nas ilhas de Cabo Verde e de S. Tomé e Príncipe fundaram-se dioceses no século XVI, como parte do processo de colonização. A aculturação não era tão forte à volta das feitorias costeiras, pois os portugueses permaneciam nas suas fortalezas, pouco convivendo com as tribos locais.

Na Ásia, encontraram civilizações bem estruturadas, onde o Hinduísmo, Budismo e Islão estavam implantados. Esforçaram-se por difundir a cultura europeia, nomeadamente o cristianismo – na Índia, os missionários, particularmente jesuítas como S. Francisco Xavier, tiveram algum sucesso entre as camadas mais pobres da sociedade, havendo batismos em massa, mas também a destruição de templos hindus. Na China e no Japão, o cristianismo, inicialmente tolerado, acabou por ser severamente perseguido.

Os missionários contavam-se entre os que mais estudavam e melhor descreviam a língua, os costumes e a mentalidade dos outros povos, que queriam conhecer para melhor os converter. No Brasil, acompanharam o povoamento desde as primeiras viagens. O Padre António Vieira foi um dos missionários que assumiu a defesa dos ameríndios, que cristianizava, mas que outros, entretanto, escravizavam.

Deste modo, embora a Coroa afirmasse que a cristianização permitiria às populações locais serem tratadas como iguais, a discriminação, baseada na religião, na cultura e na cor da pele, era um facto. As barreiras étnicas ajudaram a justificar a escravatura e acentuaram-se com a ação da Inquisição.

Outro fator de aculturação foi a miscigenação, através de casamentos entre ibéricos e mulheres locais. Foi o caso dos lançados, marinheiros, soldados ou mercadores portugueses, que casavam com africanas para melhor se inserirem nas suas comunidades, conseguindo contactos para o comércio de escravos. Esses portugueses passaram por um processo de assimilação, adotando os costumes dos povos com que passaram a viver.

No Brasil, houve poucos casamentos de portugueses com ameríndias, filhas de chefes tribais, sendo os seus descendentes designados como mamelucos ou caboclos. Mas, tal como em África, era usual que gerassem filhos com as suas escravas.

No Norte da Índia, os casamentos com portugueses eram bem vistos, assim como a sua descendência, mas em geral o sistema de castas era contrário ao matrimónio com estrangeiros –também os europeus eram olhados com desconfiança. No entanto, tanto na Índia como em Macau, foi normal que os portugueses se unissem a mulheres de castas ou classes inferiores.

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Apesar da imposição pelos europeus da língua, das crenças e costumes, da organização administrativa e política, particularmente na América e na África, o intercâmbio cultural foi possível.

Com efeito, através das rotas oceânicas trocaram-se mercadorias, mas também plantas e animais domésticos, que passaram a produzir-se noutros continentes e que modificaram hábitos – na Europa, por exemplo, vulgarizou-se, a batata, tomate, feijão, milho e tabaco da América, as especiarias e o chá da Ásia, o café de África.

Os ambientes e rotinas dos europeus alteraram-se, nomeadamente com a introdução de produtos de luxo asiáticos (mobiliário em madeiras exóticas, porcelanas, tapetes e sedas), com grande impacto nas artes decorativas, e com o trabalho dos escravos. Através destes, por outro lado, as práticas religiosas, a dança e a música de África muito influenciaram a América e o mundo.

Síntese:

  • A expansão europeia levou a um fenómeno de aculturação, particularmente em África e na América.
  • Fatores de aculturação foram a cristianização e a miscigenação.
  • Um dos fenómenos de assimilação foi o dos lançados em África.
  • O intercâmbio cultural teve lugar nos costumes, na alimentação, nas formas de trajar e nas artes decorativas.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Identificar, no âmbito de processos de colonização, fenómenos de intercâmbio, aculturação e assimilação.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/Sofia Condesso
  • Ano: 2021
  • Imagem: De Landraad te Colombo, Rijksmuseum