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Apresentar os contributos da dinâmica da litosfera para a modelação das paisagens.

Apresentar os contributos da dinâmica da litosfera para a modelação das paisagens.

Os relevos que caracterizam a superfície terrestre são o resultado da atuação de vários processos geológicos que se desenvolveram ao longo do tempo sobre a litosfera.

Esses processos têm origem na geodinâmica interna (como é o exemplo da atividade vulcânica) e na geodinâmica externa (como é o caso da atividade modeladora dos rios). A morfogénese corresponde, assim, ao conjunto dos processos que originam as formas presentes na superfície terrestre.  

A dinâmica da litosfera, através dos movimentos horizontais das suas placas, acaba por originar movimentação vertical das mesmas, devido ao reajustamento isostático, originando cadeias montanhosas. Estes processos desenrolam-se, principalmente, nos limites convergentes que envolvem placas continentais. Se a colisão se dá entre duas placas continentais, formar-se-á uma cadeia montanhosa entre os dois continentes (intracontinental), como é o exemplo dos Himalaias. Se a colisão ocorre entre uma placa continental e uma placa oceânica, formar-se-á uma cadeia montanhosa no bordo do continente (pericontinental), paralela à linha da fossa marinha, como é o exemplo dos Andes. Assim, sempre que nos limites convergentes estão envolvidas placas continentais, formam-se cadeias montanhosas devido à intensa deformação sofrida pelas rochas que as constituem, evidenciando dobras e/ou falhas. 

Pelo contrário, a destruição dessas cadeias montanhosas é da responsabilidade dos agentes erosivos, como a água e o gelo, originando formas na paisagem resultantes desses processos. Os vales fluviais e glaciares escavados no substrato rochoso que forma as cadeias montanhosas, são um excelente exemplo de como os agentes erosivos alteram e modelam a superfície terrestre. Os sedimentos resultantes da destruição dos relevos tendem a acumular-se nas partes mais baixas (as bacias sedimentares), levados pela gravidade, pelas correntes fluviais, pelo gelo dos glaciares e pelo vento. Assim, a erosão das cadeias montanhosas tende a reduzir a diferença entre as partes mais elevadas da Terra e as suas partes mais baixas, pela sedimentação e acumulação dos sedimentos nas regiões deprimidas, mas que tiveram origem nas partes altas expostas à erosão. 

Podem distinguir-se diferentes paisagens de acordo com o tipo de rocha e de processos geológicos dominantes que lhes deram origem: 

  1. paisagens magmáticas – as paisagens características das regiões dos Açores e da Madeira, com as formas vulcânicas em destaque. Neste tipo de paisagens podem ser encontradas formas diretamente resultantes dos processos magmáticos/vulcânicos como os cones vulcânicos, mais ou menos erodidos, as formas colunares basálticas resultantes do arrefecimento das lavas e contração (disjunção colunar prismática do basalto), os tubos vulcânicos, as caldeiras vulcânicas, entre outras formas. 
  2. paisagens metamórficas – como as paisagens dominadas pelas cristas quartzíticas presentes em diferentes locais de Portugal continental (Serra de S. Mamede, Marvão, Portas do Ródão, entre outras), resultantes da erosão diferencial das rochas. Uma vez que os quartzitos têm uma elevada resistência à alteração, elas acabam por se destacar na paisagem, relativamente às outras rochas que, sendo mais suscetíveis à alteração, acabam por ser mais fortemente erodidas.
  3. paisagens sedimentares – como as paisagens dominadas pelos calcários das serras de Aire, Candeeiros e Montejunto, Arrábida, entre outras, onde predominam as formas cársicas, resultantes da meteorização química, por dissolução, das rochas calcárias/carbonatadas, originando dolinas, poljes, algares e as incontornáveis grutas calcárias, com as suas estalactites, estalagmites e colunas. Também materiais de natureza detrítica, como as areias, estão bem representadas no território nacional, através das formas dunares que estão presentes em boa parte da linha costeira de Portugal continental.

As formas de relevo numa determinada região refletem, pois, o balanço entre os processos geológicos construtivos que lhes deram origem e a atividade dos agentes de meteorização e erosão que os modelam, nomeadamente: 

  1. o tipo de agente de erosão e de transporte dos sedimentos – as formas originadas pela ação do gelo (como os campos de moreias da Serra da Estrela) são bastante diferentes daquelas originadas pelo vento (como os blocos pedunculados) ou pela água de um rio (as marmitas de gigante).
  2. o declive – as diferenças de altitude entre partes adjacentes elevadas e deprimidas determinam a velocidade de deslocação das correntes de gelo e de água, com influência direta sobre a capacidade erosiva e de transporte desses agentes. Além disso, o papel da gravidade é aqui também fundamental pois, quanto maior o declive, maior a probabilidade de deslocação dos solos e de massas rochosas por ação da gravidade (os deslizamentos frequentes na Madeira, por vezes com consequências catastróficas).
  3. o clima – a temperatura e a precipitação determinam, para uma determinada região, o papel da água, do gelo e do vento como agentes erosivos e de transporte. Os enormes campos dunares nas regiões desérticas como o Sahara são um excelente exemplo de como a termoclastia (processo de alteração das rochas devido às elevadas amplitudes térmicas) atua de forma eficaz na alteração das rochas em regiões quentes da Terra.
  4. a composição do substrato rochoso – a atuação dos agentes erosivos depende da constituição do substrato (erosão diferencial). O exemplo dos quartzitos, anteriormente apresentado, é um excelente exemplo de como a natureza das rochas é determinante para o tipo de paisagem.
  5. – atividade dos seres vivos – a ação dos seres vivos na modelação das paisagens pode ser constatada a partir de ações pouco intensas mas duradouras, como as raízes das árvores, ou de forma mais intensa e em pouco tempo, como a ação do Homem na eliminação de relevos devido à exploração de pedreiras ou à abertura de estradas em zonas montanhosas, por exemplo.

Em resumo:

  • a dinâmica da litosfera (movimentos horizontais e verticais) é fundamental para a formação dos relevos terrestres. Os agentes de meteorização e erosão vão esculpindo lentamente essas formas, atuando mais intensamente nas partes mais elevadas e acumulando os sedimentos resultantes nas suas partes mais deprimidas (bacias sedimentares);
  • as paisagens podem ser classificadas em magmáticas, metamórficas e sedimentares, de acordo com o tipo de rochas presentes;
  • cada tipo de paisagem apresenta formas correspondentes aos agentes e processos que lhes deram origem.

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Ficha Técnica

  • Título: Apresentar os contributos da dinâmica da litosfera para a modelação das paisagens.
  • Área Pedagógica: Geologia
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Adão Mendes - Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia (APPBG)
  • Ano: 2020
  • Imagem: Fotografia de Michael Block, Pexels.