Conflitos étnicos e religiosos nas regiões periféricas
A permanência de focos de tensão em regiões periféricas (África subsariana, Médio Oriente e Balcãs dos anos 90) deveu-se a conflitos étnicos e/ou religiosos, que resultaram em guerras (e genocídios), sendo difícil encontrar interlocutores para a paz e para o desenvolvimento ou para a intervenção humanitária. Na América Latina as guerrilhas integraram-se nas democracias após a queda das ditaduras.
A permanência de focos de tensão em regiões periféricas resulta de rivalidades étnicas e religiosas e tem particularidades específicas. A degradação das condições de existência na África subsaariana deve-se em primeiro lugar à desertificação, que votou cerca de 50% da população ao limiar da pobreza, sem acesso a água potável, a bens de primeira necessidade e a cuidados de saúde, gerando uma fraca esperança de vida. Mas também o tribalismo tem agravado conflitos, em parte porque os países africanos preservaram as fronteiras desenhadas pelos antigos colonizadores, o que manteve a separação de muitas etnias por vários países ou confinou, num mesmo país etnias diferentes, que se agrupam em partidos e/ou religiões rivais.
Essa realidade dificultou a criação da consciência de estado-nação e potenciou golpes de Estado, guerras civis e genocídios, como no Ruanda (1994) ou no Congo, que fizeram milhares de refugiados. A forte instabilidade política dificulta a execução de planos de desenvolvimento económico e de formação de quadros (técnicos e administrativos) e de mão-de-obra. A África do Sul conseguiu alguma tranquilidade desde que Nelson Mandela, após uma longa luta, aboliu o apartheid, em 1994, quando se tornou Presidente da República.
A descolagem na América latina foi difícil, porque os governos ditatoriais (apoiados pelos EUA durante a guerra fria) contraíam empréstimos externos, com juros elevadíssimos, para modernizar os seus países, mas esses fundos eram desviados devido à corrupção, aumentando o endividamento externo, o desemprego e a inflação. Esta situação, associada à violência contra os opositores políticos (assassinados ou desaparecidos), originou a ação de movimentos de guerrilha de inspiração marxista e a contestação interna de socialistas, comunistas, liberais e dos padres da teologia da libertação. O derrube das ditaduras, nos anos 80, permitiu legalizar as guerrilhas como partidos políticos nas novas democracias.
Em 1991 foi criado o MERCOSUL para promover o crescimento, cooperação e integração económica entre os países da América Latina, mas têm tido dificuldade em resolver os problemas da violência urbana, do narcotráfico e da exploração desordenada de recursos naturais.
No Médio Oriente e nos Balcãs agravaram-se os confrontos políticos, religiosos e nacionalistas. Nos anos 80, o Irão dos fundamentalistas islâmicos chiitas de Ayatola Khomeiny e o Iraque sunita de Sadam Hussein envolveram-se numa guerra, cujos bombardeamentos atingiam a população civil e que terminou, com mediação da ONU, sem vencedor aparente.
Também os conflitos entre Israel e palestinos envolveram a população civil, dado que a instalação de colonatos judeus provocou atos terroristas da Al-Fatah, braço armado da Organização de Libertação da Palestina (OLP). Como retaliação Israel invadiu o Líbano e massacrou os palestinos aí refugiados (1982), o que suscitou a sua condenação internacional, tal como aconteceu em 1987 durante a Intifada na faixa de Gaza. O fim da guerra fria fez com que Isaac Rabin, de Israel, aceitasse a mediação da ONU e dos EUA para negociar a paz com Yasser Arafat da OLP, o que não foi aceite pelos extremistas de ambos os lados (sionistas e fundamentalistas islâmicos) persistindo ainda os conflitos.
Nos Balcãs, o fim da guerra fria provocou a separação e independência das repúblicas da antiga Jugoslávia, reacendendo-se conflitos étnicos, nacionalistas e religiosos entre ortodoxos, católicos e muçulmanos que degeneraram em guerras, com milhares de refugiados e que trouxeram à Europa, de novo, o genocídio (de bósnios muçulmanos em 1995 e de albaneses do Kosovo em 1996). Estas guerras terminaram com bombardeamentos da NATO e com o estabelecimento de acordos de paz e de proteção da independência dos povos balcânicos face à República Federal da Jugoslávia, cujo presidente Slobodan Milosevic foi julgado por crimes contra a Humanidade.
Síntese:
- A degradação das condições de existência na África subsaariana resultou da desertificação e do tribalismo que agravou conflitos étnicos e provocou genocídios nalgumas regiões.
- O endividamento externo das ditaduras na América Latina, a corrupção e a perseguição política foram combatidas pelas guerrilhas, que vieram a integrar-se nas democracias estabelecidas após a queda das ditaduras ao longo dos anos 80/90.
- No Médio Oriente os confrontos políticos, religiosos e nacionalistas provocaram situações de guerra, invasão e de guerrilha, que se mantêm e afetam a população civil.
- Os Balcãs dos anos 90 foram sacudidos por guerras (e genocídios) gerados pelos conflitos étnicos e religiosos resultantes da afirmação das nacionalidades da antiga Jugoslávia.
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Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Permanência de focos de tensão em regiões periféricas. Degradação das condições de existência na África subsaariana; etnias e Estados. Descolagem contida e endividamento externo na América latina; ditaduras e movimentos de guerrilha; a expansão das democracias. Nacionalismo e confrontos políticos e religiosos no Médio Oriente e nos Balcãs.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
- Ano: 2021
- Imagem: refugiados ruandeses no Zaire em 1994, The U.S. National Archives