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O fim do comunismo e a emergência da América como a única superpotência

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A derrocada do mundo comunista alterou o equilíbrio geoestratégico mundial, permitindo a afirmação dos EUA como a única superpotência político-militar. A partir dos anos 90 os EUA assumiram-se como «polícias do mundo», intervindo em conflitos regionais, desde que fossem do seu interesse (sobretudo petrolífero), sobrepondo-se por vezes à função reguladora da ONU.

O colapso do mundo comunista teve a sua origem na crise que a URSS atravessava quando Mikail Gorbachev se tornou presidente em 1985. As reformas que propôs para reduzir a intervenção do Estado na economia (a Perestroika ou reestruturação) e na política (a Glasnost ou transparência) levaram ao reconhecimento da liberdade de iniciativa e da liberdade de expressão, mas não resolveram a dificuldade financeira provocada pela queda dos recursos petrolíferos que tinham sustentado a balança externa.

Para reduzir o peso dos gastos militares sobre o orçamento da URSS, Gorbachev decidiu a retirada das tropas do Afeganistão, em 1988, optando pela não ingerência na política interna afegã o que levou à formação de um estado islâmico fundamentalista (em 1991). Decidiu ainda reduzir os gastos com o Pacto de Varsóvia estendendo a política de não ingerência a esses países, o que influenciou os países bálticos a reclamar a sua independência após 50 anos de ocupação soviética.

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Estes acontecimentos culminaram em 9 de novembro de 1989 na queda do muro de Berlim (com a consequente reunificação alemã pelo Tratado 2+4 em setembro de 1990) e em 26 de dezembro de 1991 na dissolução da própria URSS, tendo surgido conflitos étnicos e tendências separatistas nos países recém-criados. Gorbachev, que nunca pensara em abdicar dos princípios socialistas na sua renovação da URSS, acabou por provocar o fim do sistema defensivo do Pacto de Varsóvia e o colapso do bloco soviético, o que alterou o equilíbrio geoestratégico mundial e permitiu a afirmação dos EUA como a única superpotência político-militar.

Os EUA dos anos 90 viram o seu poder bélico aumentar exponencialmente, quando comparado com qualquer outro país, e assumiram-se como «polícias do mundo», passando a intervir em conflitos regionais e a desvalorizar a função reguladora da ONU, desde que os interesses americanos estivessem em causa, sobretudo os petrolíferos. Foi assim, em 1991, quando os EUA, liderados pelo presidente republicano George Bush (pai), lançaram a 1ª Guerra do Golfo, como retaliação à intervenção do Iraque no Kuwait, aliado dos EUA e seu fornecedor de petróleo. No final dessa guerra, a presença americana no mundo árabe pareceu sair reforçada, afirmando Bush a construção de uma «nova ordem mundial» dominada pela democracia representativa e pela economia de mercado.

A política externa dos EUA suavizou-se com o presidente democrata Clinton mais preocupado com as questões humanas, optando por reservar a ação dos EUA para «intervenções humanitárias» e/ou tentar construir laços com antigos inimigos como no caso da mediação entre Yasser Arafat e Isaac Rabin para resolver o conflito israelo-palestiniano.

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A hegemonia americana foi fortemente abalada a 11 de Setembro de 2001 com o ataque terrorista aos centros do poder económico e do poder militar americano, tendo o presidente republicano Bush (filho) decidido o reforço do investimento na indústria militar e apresentado a Nova Estratégia de Segurança Nacional (NSS). O seu lema, a «guerra contra o terror», baseava-se na possibilidade de ação dos EUA em qualquer parte do mundo, quer unilateralmente, quer em cooperação internacional.

Para combater os terroristas invadiu o Afeganistão e para evitar que acedessem ao suposto arsenal de armas de destruição maciça lançou a 2ª Guerra do Golfo (2003/2011). A captura de Sadam Hussein revelou que afinal não havia as ditas armas e tornou evidentes os interesses petrolíferos dos EUA na região, o que contribuiu para o seu isolamento e descrédito internacional, a par das críticas internas sobre o depauperamento das finanças americanas com os custos da guerra. A continuação de ataques terroristas mostrou que afinal a dita «guerra contra o terror» não resultou e que os EUA falharam na implantação da «nova ordem mundial», talvez devido ao caráter unilateral da sua ação, acabando muitas vezes por improvisar na gestão da paz.

Síntese:

  • O colapso do bloco soviético foi espoletado por uma grave crise económica, sendo que as ações de Gorbachev para a resolver e modernizar a URSS acabaram por desencadear uma série de acontecimentos que culminaram na queda do muro de Berlim e na dissolução da URSS.
  • A queda do mundo comunista deixou os EUA sem rival político-militar e contribuiu para que estes se tornassem a única superpotência com hegemonia mundial, agindo por vezes à revelia da ONU, onde acreditava que os seus interesses estavam em causa.
  • A intervenção dos EUA no mundo árabe acabou por exponenciar o terrorismo, de que o acontecimento mais marcante foi o 11 de setembro de 2001.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Relacionar a derrocada do mundo comunista com a afirmação dos EUA como única superpotência político-militar.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
  • Ano: 2021
  • Imagem: Tanque iraquiano destruído na primeira Guerra do Golfo, Domínio Público/ Picryl