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O fim do mundo bipolar

O fim do bloco comunista e as suas consequências

O fim do bloco comunista e as suas consequências

O desaparecimento do mundo comunista provocado por uma grave crise económica, lançou os países do COMECON (de economia planificada) no mercado capitalista, atraindo os investimentos das multinacionais, que aí ofereciam emprego, enquanto provocavam o desemprego e a desregulação económica e social nos países desenvolvidos e de desenvolvimento intermédio.

O desaparecimento do mundo comunista não era o objetivo de Mikail Gorbachev ao tornar-se presidente da URSS em 1985. O que pretendia era resolver a crise económica, o atraso tecnológico e a escassez de petróleo através de reformas económicas, sem abdicar dos princípios socialistas.

A Perestroika (ou reestruturação) concedia a liberdade de iniciativa e autofinanciamento, mas foi difícil de executar num país habituado à economia planificada e em que o estado ficou com as empresas de tecnologia obsoleta, porque os privados adquiriram as mais rentáveis.

O desemprego e a inflação dispararam e a moeda e os salários, desvalorizaram-se. A escassez do petróleo não permitia pagar a importação de cereais necessária para evitar a fome e Gorbachev enfrentou críticas, a nível interno, devido à queda da qualidade de vida e exigências de maior liberalização, a nível externo, se quisesse empréstimos no Ocidente.

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A decisão de reduzir o défice financeiro através do corte nos gastos militares levou à retirada do Afeganistão. Tal precipitou o fim do Pacto de Varsóvia, a queda do bloco soviético e a desagregação do COMECON, cujos países foram lançados no capitalismo e na economia de mercado sem estarem preparados para a liberdade de iniciativa e para a forte concorrência entre estados. Para assegurar a continuidade da cooperação económica, mas também para resolver o problema do armamento nuclear e a «herança de Chernobyl», a Federação Russa, a Bielorrússia e a Ucrânia criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI), em 1991, à qual depois aderiram algumas das antigas repúblicas da URSS.

No final de 1991 Gorbachev demitiu-se sem ter resolvido a crise económica. Boris Ieltsin, o presidente seguinte, abriu o mercado interno russo ao estrangeiro, sem proceder à modernização da indústria, dado que desviou os empréstimos do FMI, dos EUA e da Alemanha para a guerra com a Chechénia (1994-96), aumentando a corrupção, a crise económica e a clivagem social. Só a descoberta de novos poços de petróleo e de gás natural permitiu a transição para a economia de mercado.

A economia internacional ressentiu-se do colapso do bloco soviético por ter desaparecido o COMECON, ou seja, deixou de haver mercado para as produções das economias planificadas dos países de Leste, da Mongólia, de Cuba e do Vietname, gerando forte desemprego e inflação devido à aquisição de produtos no mercado capitalista.

Cada um destes países recuperou a ritmos diferentes, sendo os países de Leste integrados na União Europeia (UE). A recuperação mais rápida foi a da República Democrática Alemã (RDA) que contou com as injeções de capital da República Federal da Alemanha (RFA), onde foi integrada em setembro de 1990; os restantes países beneficiaram de financiamento da UE para apoiar a sua modernização e transição para a economia de mercado, tendo entrado em maio de 2004 os de economia mais avançada (Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia) e em janeiro de 2007 os de economia mais frágil (Bulgária e Roménia).

Estes países contaram ainda com o emprego oferecido por empresas multinacionais e conglomerados transnacionais atraídas por uma mão de obra mais barata e pela oportunidade de deixarem de suportar os benefícios sociais que tinham alcançado os trabalhadores dos países desenvolvidos e de desenvolvimento intermédio. A desregulação económica e social nestes últimos países levou a que os estados tivessem de suportar os custos do desemprego, refletindo-se na política interna e na privatização dos serviços públicos.

O avanço do capitalismo tem sido de tal forma global que se faz sentir, inclusive, nas dinâmicas económicas de países com o Partido Comunista no poder, como o Laos, o Camboja, a Coreia do Norte ou a China.

A desintegração do mundo comunista não foi bem aceite por quem apreciava a estabilidade do pleno emprego e dos serviços de saúde e de educação estatais e rejeitava o individualismo associal do neoliberalismo.

Síntese:

  • As tentativas de Mikail Gorbachev de resolver a crise económica da URSS precipitaram a queda do bloco soviético, tendo lançado os países do COMECON no sistema capitalista, sem preparação para tal.
  • A Federação Russa, a Bielorússia e a Ucrânia criaram a Comunidade de Estados Independentes (CEI) que integrou algumas das antigas repúblicas soviéticas.
  • A mão de obra barata dos países do COMECON atraiu as multinacionais e transnacionais, que se retiraram dos países desenvolvidos e de desenvolvimento intermédio onde deviam pagar os benefícios sociais alcançados pelos trabalhadores.
  • O sistema capitalista tem vindo a alterar as dinâmicas económicas mundiais até em países com o Partido Comunista no poder.

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Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Relacionar o desaparecimento do mundo comunista com o reforço da desregulação económica e social nos países desenvolvidos e de desenvolvimento intermédio.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/ Mariana Lagarto
  • Ano: 2021
  • Imagem: Mikail Gorbachev observa o fim do comunismo, editorial cartoons of Edmund S. Valtman / Library of Congress