O liberalismo económico e as crises de superprodução
No século XIX, a ideologia liberal foi responsável pelo grande desenvolvimento económico. Criaram-se grandes empresas que absorviam as mais pequenas e bancos com avultados capitais com várias sucursais em diferentes países. Esta realidade exigiu a maximização do lucro e a especialização operária. No entanto, o mundo via-se a braços com crises regulares de superprodução que desestruturavam os mecanismos económicos, financeiros e sociais durante algum tempo.
A doutrina liberal, para além da defesa da liberdade individual, também defende o investimento económico sem qualquer tipo de barreiras, através da iniciativa individual e da ausência de intervenção do Estado.
O liberalismo económico encontra origens no fisiocratismo que defendia a total liberdade em cultivar o solo e criticava as práticas comunitárias agrícolas, consideradas pouco rentáveis. A liberdade de cultivo estava associada à liberdade de circulação de mercadorias sem entravas alfandegários.
Adam Smith definiu as bases do liberalismo económico: a livre iniciativa e a busca da riqueza conduzia ao trabalho produtivo; à poupança; à acumulação de capital e ao investimento. Segundo o mesmo autor as regras do mercado, baseadas na lei da oferta e da procura, estabeleceriam de uma forma natural os salários e os preços a praticar. Ao Estado apenas competiria facilitar a produção e a comercialização, garantir a ordem pública, a justiça e o direito à propriedade.
Estes princípios foram imediatamente adotados pelos grandes industriais, comerciantes e banqueiros no desenvolvimento das suas atividades, estabelecendo o capitalismo industrial. A liberdade comercial asseguraria o desenvolvimento e a riqueza no mundo inteiro, promovendo a concorrência entre as nações, aumentando a qualidade dos produtos pela permanente inovação.
Esta corrente liberal foi responsável pelo grande crescimento económico da Inglaterra no século XIX. Os direitos alfandegários foram progressivamente diminuídos e até 1870 o livre-cambismo vigorou na Europa e nos Estados Unidos conduzindo a um forte crescimento do comércio internacional.
O grande crescimento económico levou ao surgimento de enormes unidades industriais que absorveram as pequenas unidades sem capacidade de concorrerem num mercado aberto. Procedeu-se assim à concentração industrial com grandes empresas que controlavam vários ramos de negócios, tinham capacidade de inovar através de investimentos avultados e resistiam melhor às crises económicas, que por vezes levavam a mais fusões e concentrações de empresas, ganhado mais competitividade.
Também no setor bancário se assistiu a esta dinâmica. As instituições financeiras tiveram um papel determinante no crescimento do comércio internacional com a concessão de crédito para investimentos avultados das grandes empresas industriais. O volume de capitais movimentados tornou-se gigantesco, levando os grandes bancos a absorver os mais pequenos aumentando a sua dimensão e alargando a atividade com várias sucursais no próprio país e no estrangeiro.
O mundo assistiu no século XIX a uma movimentação de mercadorias e de capitais como nunca antes se tinha assistido. O lucro era o que movia o empresário, para isso era necessário vender ao preço mais baixo possível. Desta forma, os recursos humanos e meios de produção teriam de ser rentabilizados.
Para aumentar o rendimento do trabalhador caminhou-se para uma especialização das tarefas do operário, fáceis de executar e repetitivas. Cada operário tinha de realizar uma tarefa, continuada por outro operário no turno seguinte, num determinado tempo que estava articulada com a restante cadeia de produção. A este método chamou-se Taylorismo. O operário não tinha criatividade e produzia em série objetos iguais, estandardizados. Estes produtos eram colocados no mercado a um preço acessível.
Um dos exemplos máximos do Taylorismo foram as fábricas de Henry Ford, com a produção do modelo T. Na sua fábrica existiam tapetes rolantes que faziam chegar as peças aos operários que trabalhavam de acordo com a cadência imposta pelo ritmo da engrenagem.
Este modelo de liberalismo económico, com liberdade de trocas comerciais e de livre iniciativa, era altamente favorável à maximização do lucro e à criação de riqueza. Porém, o crescimento desmedido levou a que na segunda metade do século XIX surgissem outro tipo de crises diferentes do Antigo Regime: crises de superprodução.
Estas crises caracterizavam-se pelo excesso de produção e os produtos passavam a ter dificuldades em serem vendidos. Os stocks acumulavam-se, os preços desciam, a produção começava a recuar, os salários eram reduzidos e nalguns casos procedia-se mesmo ao despedimento de trabalhadores. Perante este cenário os empresários deixavam de poder cumprir os seus compromissos com os bancos, estes entrevam também em dificuldades e as empresas viam o seu valor bolsista diminuir. Este cenário levava a uma crise económica e financeira que se espalhava rapidamente. A repetição destas crises levou a que as ideias protecionistas voltassem a ter defensores no final do século XIX.
Síntese:
- O desenvolvimento industrial modificou as formas de organização industrial e financeira, promovendo a concentração industrial e bancária.
- A produção industrial passou a ser baseada no trabalho em série e na estandardização. A crescente produção nos vários setores, baseada no liberalismo económico, levou a crises de superprodução.
- A crescente produção nos vários setores, baseada no liberalismo económico, levou a crises de superprodução.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Caracterizar os princípios fundamentais do liberalismo económico relacionando-o com o crescimento económico verificado no século XIX. Concentração industrial e bancária; racionalização do trabalho. Reconhecer a existência de crises cíclicas de superprodução no seio da economia capitalista, especialmente na segunda metade do século XIX.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/Nuno Pousinho
- Ano: 2021
- Imagem: Interior de Fábrica 1830-1900, Digital Archive/ PICRYL