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Os salões de arte

Os salões de arte

A designação de salão generaliza-se na sequência do Salão de Paris organizado pela Academia Real de Pintura e Escultura. A história da arte dos séculos XVIII, XIX e XX ficará marcada pelo conjunto de disputas e exposições que terão lugar, entre outros espaços, nos salões de Paris, dos Recusados, dos Independentes ou do Outono, onde face às opções estéticas da academia, os restantes salões apresentavam novas práticas artísticas. Porém, quando no campo da arte se refere o termo salão, pode igualmente referir-se a exibição de um conglomerado de peças sem cuidados de agrupamento por afinidades temáticas, estilísticas ou outras.

A generalização da designação de salão associada à exposição de obras de arte surge na sequência das exposições organizadas pela Academia Real de Pintura e Escultura francesa, iniciadas em 1667, que têm lugar no Salon Carré do edifício do atual Museu do Louvre. Estas exposições tornam-se públicas de 1699 em diante, ficando conhecidas como o Salão de Paris. A palavra salão, que foi recorrentemente utilizada como sinónimo de exposição, será abandonada paulatinamente ao longo do século XX, rareando a partir de meados do século passado. 

Quando no campo da arte se refere o termo salão, pode igualmente estar em causa um modo de apresentação das obras de arte que não obedece a critérios temáticos estritos ou à exploração de teses a partir da coordenação das obras expostas. De resto, por salão entende-se amiúde um conglomerado de peças que ocupa todo espaço expositivo, num preenchimento sem quaisquer cuidados de agrupamento por afinidades temáticas, estilísticas ou outras, fazendo de cada quadro uma unidade totalmente independente das que o rodeiam. Este uso pejorativo da palavra remete igualmente para a longa e conturbada história do Salão de Paris, onde face ao aumento do número de obras expostas se foi ocupando toda a parede disponível e, inclusivamente, o teto.

Não obstante esta caracterização geral, a história dos salões, nomeadamente dos salões citos em Paris, desde o primeiro Salão da Academia Real até à criação do Salão dos Recusados (1863), do Salão dos Independentes (1884) ou do Salão do Outono (1903) permite atravessar a história da arte deste período.

A afirmação do Salão de Paris e de outros congéneres de menor peso relativo, tanto em número de obras expostas como na sua repercussão social e cultural, relaciona-se diretamente com um modo de entendimento da arte e com condições sociais, políticas, económicas e culturais que se vinham alterando ao longo da época moderna. Assim, deve ter-se em conta que o modelo mecenático foi progressivamente substituído ou perdendo relevância face à afirmação de um mercado de arte que, nalguns pontos da Europa, nomeadamente na Flandres, em Paris ou em Roma, era já sensível e suficientemente pujante em meados do século XVII.

Fruto tanto da ascensão de uma classe burguesa capaz de sustentar esse mercado, como de um olhar ao fenómeno artístico que incorpora duas facetas indissociáveis: a afirmação da arte como espaço autónomo de pensamento e organização do mundo e veículo de afirmação política, social, cultural e económica a partir do qual era possível expor determinada mundividência.

Ao longo da época moderna foram surgindo vários espaços e enquadramentos para a exposição de obras arte, todos sofrendo transformações e alguns perdendo relevância nos dias de hoje. Entre estes contam-se os salões, os museus, as galerias de arte ou as bienais,  mas também as exposições organizadas por artistas entre meados dos séculos XIX e XX. A solo ou em grupo, por vezes em espaços não especificamente concebidos para a exibição de obras de arte, outras em pavilhões montados para o efeito, também estas desempenharam um papel fundamental na história da arte deste período. Como exemplos, pode destacar-se o já referido Salão dos Independentes, espaços central na divulgação das vanguardas da mudança de século.

Realizado anualmente a partir de 1884, é organizado pela Sociedade de Artistas Independentes, fundada no mesmo ano por artistas entre os quais se contavam os pintores Georges Seurat (1859-1891) ou Paul Signac (1863-1935). É igualmente neste salão que, em 1911, os pintores cubistas se apresentam pela primeira vez como um movimento. 

Apesar de não ser organizado exclusivamente por artistas, o Salão de Outono, cuja primeira exibição se realiza em 1903, inseria-se na mesma reação às opções estéticas da academia francesa. A sua abertura às novas práticas artísticas fará deste salão um local central na apresentação das vanguardas históricas. Neste sentido, é na sequência da sua edição de 1905 que ganha maior visibilidade o Fauvismo, dando lugar a uma exposição mais extensa no Salão dos Independentes do ano seguinte. Mas o termo Fauvismo ficará ligado ao Salão de Outono de 1905, na sequência do qual Louis Vauxcelles (1870-1943) redige uma crítica onde apelida pintores como Henri Matisse (1869-1954), André Derain (1880-1954) ou Maurice Vlaminck (1876-1958) de animais selvagens – fauves, no original em língua francesa.

É também entre estes dois salões, com especial relevância para o período entre 1910 e 1912, nomeadamente os salões de Outono de 1910 e dos Independentes de 1911, que o Cubismo irá encontrar espaço público de discussão e afirmação, para além do trabalho que Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braques (1882-1963) iam mostrando na galeria de Daniel-Henry Kanhweiler (1884-1979).

Síntese

  • A designação de salão generaliza-se na sequência do Salão de Paris organizado pela Academia Real de Pintura e Escultura.
  • A história da arte dos séculos XVIII, XIX e XX ficará marcada pelo conjunto de disputas e exposições que terão lugar, entre outros espaços, nos salões de Paris (1667-1890), dos Recusados (1863), dos Independentes (1884) ou do Outono (1903).
  • Face às opções estéticas da academia e às exclusões dos Salões de Paris, os salões dos Independentes ou do Outono, bem como outras exposições organizadas por artistas, serão espaços centrais na apresentação das vanguardas históricas.
  • No mundo da arte, o termo salão pode também referir-se à exibição de um conglomerado de peças sem cuidados de agrupamento por afinidades temáticas, estilísticas ou outras.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Os salões de arte
  • Área Pedagógica: História da Arte e da Cultura
  • Autoria: Associação de Professores de História/André Silveira
  • Ano: 2021
  • Imagem: Salão de outono, Paris, 1912. František Kupka, Fundació Joan Miró, Barcelona.