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Relevo Litoral – acumulação costeira

Relevo Litoral – acumulação costeira

O litoral, superfície do continente em contacto direto com o mar, ou afetado por fenómenos característicos dessa faixa de transição, é um sistema dinâmico que sofre alterações ao longo do tempo. Exposto à ação do mar e dos elementos do clima, o litoral sofre processos erosivos (de desgaste e de deposição/acumulação), que vão contribuindo para alterar as suas características físicas, com impactes na paisagem e na atividade humana. Palco de inúmeras atividades humanas que ao longo dos tempos têm induzido uma pressão acrescida, a faixa litoral apresenta-se em equilíbrio bastante frágil pela degradação do sistema costeiro, em grande parte devido aos problemas relacionados com a erosão.

A zona compreendida entre a linha de costa e os grandes fundos oceânicos é conhecida por margem continental, sendo constituída pela plataforma continental (zona imersa de declive suave com uma profundidade média de 130–200 metros), pelo talude continental (a seguir à plataforma continental e com declive mais acentuado) e pela elevação ou rampa (zona de transição entre o talude e os fundos oceânicos).

A linha de costa, zona de contacto entre a terra e o mar, é modelada pelo mar e pela ação continuada das ondas, através de processos de erosão, transporte e de acumulação/deposição, sendo a sua morfologia o espelho da ação conjugada dos agentes que atuam no litoral ao longo do tempo.

Por oposição à costa alta e rochosa, a costa baixa, de modelado mais suave, é constituída por formas de relevo de acumulação, baixas e arenosas, de que as praias são o mais belo e característico exemplo.

As praias, cartão de visita do litoral português, são depósitos de areia e seixos, arrancados às arribas ou transportados de outros troços do litoral, e que se acumulam nas áreas abrigadas da costa, onde as correntes marinhas têm menos energia. Quando o depósito de areia se acumula paralelamente à costa, formam-se as barras ou ilhas-barreira.

Nas áreas de interseção entre o mar e os rios, tais como os estuários (troço terminal de um rio, próximo da sua foz e em contacto com o mar), as formas de relevo designam-se por fluvio-marinhas, pois têm dupla influência da água do mar e do rio, das marés e dos sedimentos de ambas as proveniências.

Uma outra forma de relevo fluvio-marinha é o delta, quando a foz do rio é formada por diversos canais constituídos por sedimentos transportados, depositados e não removidos pelas marés ou pelas ondas, formando uma paisagem aluvial.

No litoral podemos também encontrar outras formas de relevo que se constituem como zonas de transição entre o meio terrestre e o meio marinho, com grande complexidade ecológica face às áreas envolventes. São as lagunas costeiras, planos de água separados do mar aberto, com o qual contactam, efémera ou permanentemente, e do qual estão protegidas por uma barreira arenosa ou rochosa.

Alguns exemplos de lagunas costeiras em Portugal são a Lagoa de Óbidos, a Lagoa de Santo André, a Lagoa de Albufeira, a Concha de S. Martinho do Porto (Fig.1), a Ria Formosa ou a Barrinha de Esmoriz.

Algumas destas lagunas estão separadas do mar por uma extensa e estreita faixa de areia, denominada de ilha-barreira, resultante da ação das ondas e do vento que depositam aquele material paralelamente à linha de costa, e que, tal como o nome indica, exercem proteção do sistema lagunar adjacente. Na costa algarvia, a ria Formosa (Fig.2) é um exemplo de ilhas barreiras delimitando uma extensa área de lagunas que assim se encontram protegidas da ação do mar.

Na região Norte de Portugal, o haff-delta de Aveiro, vulgarmente referido como “ria de Aveiro”, constitui outro exemplo de um sistema lagunar, protegido por extensos cordões de areia.

Com características semelhantes às restantes formas de relevo características do litoral baixo e arenoso, a restinga ou cabedelo (Fig.3) é uma língua de areia que se forma, em geral, na margem sul da foz dos rios devido à ação da corrente de deriva litoral e deposição das areias nos lugares mais abrigados das baías.

No litoral português, encontramos ainda outras formas de relevo resultantes da acumulação de areiaspor ação do mar e dos ventos: as dunas e os tômbolos.

Nas zonas litorais, as dunas formam-se com a acumulação de areia na cabeceira da praia, por ação do vento, e movimenta-se no sentido do afastamento em relação ao mar.

Já o tômbolo é um acidente geográfico que une uma ilha ao continente por uma estreita faixa que resulta da acumulação de sedimentos. Peniche e o Baleal (Fig.4), distanciados por pouca distância, são os dois exemplos desta forma de relevo litoral, ainda que com dimensões distintas. O conjunto formado pela ilha e pelo tômbolo podem ser confundidos com uma península, porém o que a distingue do tômbolo é a sua maior dimensão.

Fig. 1 - Concha de São Martinho (São Martinho do Porto). GOOGLE EARTH
Fig. 2 - Ilhas-barreira e sistema lagunar (Ria Formosa – Algarve). GOOGLE EARTH
Fig. 3 - Restinga ou cabedelo (Foz do Douro – Porto). GOOGLE EARTH
Fig. 4 - Tômbolo – relevo de acumulação (Baleal, Peniche). GOOGLE EARTH

Para além do seu traçado retilíneo, o litoral português é também constituído por um número não muito elevado de ilhas (pequena porção de terra rodeada por água), de diferentes dimensões, das quais a Berlenga é a mais importante e conhecida. As Berlengas são efetivamente um arquipélago, constituído por uma ilha e vários ilhéus (de menor dimensão) relativamente próximos uns dos outros, situado ao largo de Peniche (Berlenga Grande, Ilhas Estelas, Farilhões, ilhéu do Cerro da Velha). Outros ilhéus mais conhecidos na costa portuguesa são o do Pessegueiro (Sines) e o da Ínsua (Caminha).

Relevo Litoral – erosão costeira
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Relevo Litoral – erosão costeira

SÍNTESE

  • A atual configuração do litoral resulta da interação entre os agentes da geodinâmica interna e externa, bem como da ação antrópica. É do contato destes agentes que à escala humana resulta o caráter fortemente dinâmico da zona costeira.
  • A ação do mar, através das ondas, é o principal agente modelador do relevo litoral, através de processos de desgaste, transporte e deposição/acumulação.
  • Resultado da ação modeladora do mar e dos elementos do clima (vento e precipitação), quer na costa baixa ou arenosa, quer na costa alta ou rochosa, o relevo do litoral português é bastante diversificado, destacando-se as ilhas-barreira, os estuários, os deltas, as lagunas, as restingas e os tômbolos.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Meio Natural - Os recursos naturais e os recursos marítimos
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de Geografia
  • Ano: 2021
  • Imagem: Acumulação de areias na costa, pok-rie-5986396 / pexels