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Relevo Litoral – erosão costeira

Relevo Litoral – erosão costeira

O litoral, superfície do continente em contacto direto com o mar, ou afetado por fenómenos característicos dessa faixa de transição, é um sistema dinâmico que sofre alterações ao longo do tempo. Exposto à ação do mar e dos elementos do clima, o litoral sofre processos erosivos (de desgaste e de deposição/acumulação), que vão contribuindo para alterar as suas características físicas, com impactes na paisagem e na atividade humana. Palco de inúmeras atividades humanas que ao longo dos tempos têm induzido uma pressão acrescida, a faixa litoral apresenta-se em equilíbrio bastante frágil pela degradação do sistema costeiro, em grande parte devido aos problemas relacionados com a erosão.

Em termos geomorfológicos, a superfície terrestre é dominada por continentes e oceanos, estando estas duas realidades físicas separadas pela linha de costa.

A zona compreendida entre a linha de costa e os grandes fundos oceânicos é conhecida por margem continental, sendo constituída por três elementos principais: a plataforma continental, que corresponde à zona imersa de declive suave imediatamente a seguir à linha média da baixa-mar com uma profundidade média de 130–200 metros, estendendo-se até à zona onde o declive é mais acentuado; o talude continental, que se segue à plataforma continental e se distingue desta por apresentar um declive mais acentuado; e a elevação ou rampa, a zona de transição entre o talude continental e os grandes fundos oceânicos, e cuja largura varia entre os 100 e os 1000km.

A linha de costa, zona de contacto entre a terra e o mar, é modelada pelo mar e pela ação continuada das ondas, através de processos de erosão, transporte e de acumulação/deposição, sendo a sua morfologia o espelho da ação conjugada dos agentes que atuam no litoral ao longo do tempo.

O forte poder erosivo das ondas é o principal responsável pelas formas de relevo que aí podemos encontrar, sem esquecer o contributo que outros fatores como o vento e a precipitação dão também a este modelado.

As alterações na configuração do litoral podem levar centenas de anos, e a forma como a linha de costa evolui depende muito do tipo de material: quanto mais duro for o material rochoso, mais difícil é ser erodido. Por isso, podemos ter troços de costa alta e troços de costa baixa, sendo os primeiros associados a litologias mais resistentes e, os segundos, a materiais rochosos mais brandos e fáceis de desgastar.

O litoral português apresenta, em geral, um traçado retilíneo, embora a uma escala local e em determinados troços tenha uma configuração recortada, em especial onde predomina a costa alta e rochosa. Aqui, a diferente dureza dos materiais sujeitos à ação dos elementos erosivos permitiu o desenho de variadas formas de relevo talhadas na rocha, de que os cabos e as baías são a expressão mais evidente (Fig.1).

Fig. 1 – Cabo e arribas de São Vicente em Vila do Bispo (Portugal). MANFRED ZAJAC / PIXABAY

As baías e cabos ou promontórios são formados quando os agentes erosivos desgastam rocha com diferentes graus de dureza. Um cabo é uma massa rochosa mais resistente à erosão, que se projeta no mar, podendo também assumir a designação de promontório quando de menor dimensão e importância. Por oposição ao cabo, as baías são um corpo de água formando um recuo da costa, maior do que uma enseada, mas menor do que um golfo.

Em dimensões menores e quase escondidas pelos recortes das arribas em contacto com o mar, as enseadas são pequenas baías onde se resguardam alguns modestos portos de pesca face às agruras do oceano em dias de mar revolto. As baías são geralmente mais protegidas do mar e, por conseguinte, a menor energia erosiva do mar leva à formação de praias de areia ou de seixos e calhaus.

Os 854km de linha de costa em Portugal são maioritariamente constituídos por arribas, também vulgarmente designadas por falésias, que se definem como vertentes escarpadas muito íngremes ou mesmo na vertical, que resultam da ação erosiva do mar sobre a rocha.

As arribas podem classificar-se em arribas vivas, quando sofrem a ação modeladora do mar, ou arribas fósseis quando, afastadas em relação à linha de costa, já não sofrem da abrasão marinha devido à acumulação, na sua base, de uma planície litoral que as protege da ação do mar. As arribas mortas resultam, quer de fenómenos associados a regressão marinha, quer do levantamento tectónico de placas, responsáveis pelo “afastamento” do material rochoso da ação da abrasão marinha.

A abrasão marinha é entendida como uma forma de erosão causada pelo mar devido à ação mecânica das ondas que transportam fragmentos de rochas e outros materiais abrasivos e que ao serem lançados contra a base da arriba, provocam o seu desgaste e consequente desmoronamento por falta de sustentação da rocha dos estratos superiores.

Como consequência do recuo da arriba, a linha de costa vai também progressivamente recuando, colocando em risco construções humanas e terrenos agrícolas e deixando a descoberto, principalmente na maré baixa, a plataforma de abrasão (Fig.2), uma superfície aplanada e irregular, composta por blocos e sedimentos de grandes dimensões.

Fig. 2 – Plataforma de abrasão e praia de Ribeira d’Ilhas, na Ericeira (Portugal). APROFGEO

A ação contínua do mar sobre a rocha desgasta-a formando concavidades que se transformam em grutas e que podem evoluir para um arco quando se unem grutas de ambos os lados do promontório. Quando a estrutura superior do arco cai, sobra uma rocha isolada, designada por coluna, farilhão ou ainda leixões (Fig.3).

Fig. 3 – Farilhões na Ponta da Piedade, em Lagos (Portugal). OTÁVIO NOGUEIRA / WIKIPÉDIA

Relevo Litoral – acumulação costeira
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Relevo Litoral – acumulação costeira

SÍNTESE

  • A atual configuração do litoral resulta da interação entre os agentes da geodinâmica interna e externa, bem como da ação antrópica. É do efeito combinado destes agentes que à escala humana resulta o caráter fortemente dinâmico da zona costeira.
  • A ação do mar, através das ondas, é o principal agente modelador do relevo litoral, através de processos de desgaste, transporte e deposição/acumulação.
  • Resultado da ação modeladora do mar e dos elementos do clima (vento e precipitação), quer na costa baixa ou arenosa, quer na costa alta ou rochosa, o relevo do litoral português é bastante diversificado, destacando-se os cabos, as arribas e as praias.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Meio Natural – Os recursos naturais e os recursos marítimos
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação de Professores de Geografia
  • Ano: 2021
  • Imagem: Plataforma de corte em onda causada pela erosão do mar nos penhascos (Southerndown, País de Gales) / Wikipédia