“Quando Vier a Primavera”, de Alberto Caeiro

Alberto Caeiro é o Mestre dos heterónimos pessoanos e do próprio Fernando Pessoa. Poeta bucólico, "de espécie complicada", Caeiro dizia que "o verso nunca se emenda". Recordamos o autor de "O Guardador de Rebanhos" com este poema "Quando vier a Primavera", dito pelo ator Pedro Lamares.

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro in Poemas inconjuntos

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Temas

Ficha Técnica

  • Título: Um Poema Por Semana
  • Tipologia: Programa de Poesia
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2011