Início da viagem aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral
O projeto de fazer a travessia aérea do Atlântico Sul nasceu da colaboração dos dois homens que a levaram a cabo, e que possuíam conhecimentos complementares: Gago Coutinho era um cartógrafo ao serviço da Marinha e possuía já uma larga experiência nesse campo, tendo desempenhado várias missões de cartografia nas colónias portuguesas em África. Sacadura Cabral, por seu lado, era um piloto com larga experiência de voo.
Os dois homens conheceram-se em África e partilhavam preocupações acerca dos problemas de localização e orientação em alto-mar, que se colocavam à navegação aérea.
Foi Sacadura Cabral, enquanto diretor dos serviços de aeronáutica naval, quem desenvolveu o plano de preparação técnica da viagem, para a qual escolheu o aparelho mais adequado. Gago Coutinho, por seu turno, aperfeiçoou o sextante, um aparelho que permitia a orientação do avião em pleno vôo, sem a necessidade de visualizar diretamente o horizonte.
Inventaram ainda um corretor de rumos, que permitia rectificar os desvios causados pelo vento. Após um período de testes, foi finalmente levada a cabo a viagem aérea entre Portugal e o Brasil, aproveitando o facto de decorrer a celebração do centenário da independência daquele país.
- Como foi a viagem?
O hidroavião, batizado Lusitânia, descolou de Belém às 7 da manhã do dia 30 de março de 1922. Como era de esperar, Sacadura Cabral pilotava e Gago Coutinho seguia como navegador. A viagem foi feita em várias etapas e enfrentou diversas dificuldades.
A primeira escala foi em Las Palmas e a segunda, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente. Aqui foram feitas as primeiras reparações ao avião. Seguiram então para as ilhas brasileiras de S. Pedro e S. Paulo, que localizaram sem dificuldade. Aqui o aparelho danificou-se de forma irreversível, obrigando ao transporte, por navio, até à ilha de Fernando de Noronha.
O governo português enviou um novo hidroavião, com o qual reiniciaram a viagem, mas uma avaria no motor obrigou-os a nova interrupção. Só com um terceiro aparelho, batizado Pátria, conseguiram finalmente retomar o curso da viagem, fazendo escala no Recife e noutras cidades brasileiras, até à chegada à capital do Brasil, o Rio de Janeiro, a 17 de junho.
Foram recebidos de forma entusiástica nas várias cidades onde pararam, assim como em Lisboa, depois de realizarem a viagem de regresso.
- Foi, portanto, um sucesso?
A travessia do Atlântico Sul foi um completo sucesso, apesar dos percalços da viagem. O seu principal objetivo foi plenamente cumprido: era possível percorrer de avião enormes distâncias sobre o oceano de forma rigorosa e precisa, utilizando apenas instrumentos portáteis de navegação astronómica.
A jornada serviu de inspiração para viagens posteriores e constituiu um passo decisivo para o desenvolvimento das ligações aéreas entre os dois lados do Atlântico.
Os dois homens foram recebidos como heróis em Portugal e receberam diversas honras de estado. O seu destino foi, contudo, bem distinto: Sacadura Cabral morreu dois anos depois, num voo entre Amsterdão e Lisboa. Já Gago Coutinho teve uma carreira longa e frutuosa, quer ao serviço da Marinha e da aviação, quer como historiador e investigador de história náutica. Morreu em 1959, aos 90 anos.
Ficha Técnica
- Título: Os Dias da História - Início da viagem aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2017
- Fotografia: Sacadura Cabral e Gago Coutinho