Uma exposição para Vincent Van Gogh

Não é apenas a obra do pintor holandês que nos prende. A vida de Vincent é uma outra tela a atrair sobre si olhares curiosos. Ver ao vivo os espaços que eram os seus, como o quartinho minúsculo de Arles captado em pinceladas vigorosas e arrojadas, poder tocar nas suas pinturas, ou ler as cartas que trocou com o irmão, Theo, é entrar no universo Van Gogh de forma completa. Se ele criou um mundo alternativo nas suas obras, esta exposição deu novos sentidos a esse mundo.

Sabemos que as flores de Vincent eram os girassóis e o amarelo, a cor do sol, que lhe transmitia felicidade. Que foi muitas coisas antes de ser pintor, que cortou uma orelha, era temperamental e tinha acessos depressivos ou, antes do fim, terá disparado sobre o próprio peito. Sabemos sempre alguma coisa da história fascinante do artista holandês, que só aos 27 anos se entregou à pintura como uma forma de redenção, para expressar a sua fé e as suas emoções.

Van Gogh passou a ter uma segunda vida, a existir nas pinturas que criava, obsessivamente, num exercício contínuo e incansável de amadurecimento de estilo, a contornar algumas inseguranças artísticas, herdadas da pouca formação que tivera. Mas, mais do que uma questão técnica ou estética, é apenas a sua visão do mundo que dá significado aos quadros cheios de cenas simples do quotidiano, com os camponeses esquecidos, as naturezas-mortas ou as paisagens onde encontra a beleza pura das coisas. A perspetiva, a atenção ao pormenor, a atração pela cor, vão definir muito o seu trabalho.

Depois de um princípio mais sombrio e monocromático, a paleta do artista aproxima-se da sua verdade, as cores mais contrastadas e vibrantes, as pinceladas sensíveis, vigorosas, subtis e exuberantes, apresentam um novo Vincent e uma nova forma de fazer pintura a que se chamou impressionismo, certamente revolucionária para os modelos do século XIX.

Nunca foi a fama a pagar-lhe as contas, apenas um quadro terá vendido nos dez anos em que produziu mais de duas mil obras. Não fosse a aprovação e a ajuda financeira do irmão Theo, com quem manterá uma relação próxima até ao dia da sua morte, a 29 de julho de 1890, e provavelmente, muito pouco saberíamos de Vincent Van Gogh.

Na correspondência trocada entre os dois, lemos os estados de alma do pintor, seguimos os entusiasmos e as melancolias que o assaltam. Numa dessas centenas cartas, escreve que os verdadeiros pintores não pintam as coisas como elas são, pintam-nas como as sentem. Talvez seja este o segredo para entrar nos seus quadros: tocar com os olhos as espessas camadas de tinta e mergulhar. Por isso esta exposição produzida pelo Vincent Van Gogh Museum, que permite tocar e experimentar tudo o que é mostrado, faz todo o sentido. Ou todos os sentidos do genial pintor.

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Temas

Ficha Técnica

  • Título: Literatura Aqui - Exposição de Vincent Van Gogh
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2020