Um retrato de Modigliani

Pintou, desenhou e esculpiu até ser o inconfundível Amedeo Modigliani. O artista das figuras estilizadas, alongadas, de olhos rasgados, dedicou-se por inteiro à arte. Algumas obras pertencem à coleção do amigo Paul Alexandre, mostradas em Lisboa, em 1995.

Começa tudo no olhar de Modigliani. Fascinado pela forma humana, o artista molda com ternura os seus modelos, descobre-lhes a geometria do corpo, perscruta estados de alma e acentua tudo com linhas elegantes, contornos arredondados e uma sensível paleta de cores bem contrastadas.

“Aquilo que procuro não é o real nem o irreal, e sim o inconsciente, o mistério do que há de instintivo na raça humana”, escreve o pintor que conheceu o destino dentro de um sonho.

Nos poucos dados biográficos disponíveis, conta-se que o rapazinho, nascido em Itália em 1884, oriundo de uma família da burguesia judaica, adoeceu um dia com febre tifoide e, durante um sonho delirante, teve a revelação de que seria artista. Amedeo começa a cumprir o desígnio aos 14 anos, inicia os estudos na Academia de Arte de Livorno, a terra natal. Frequenta aulas de modelo-vivo, estuda a arte do Renascimento e, em 1906, vai para Paris, o coração da vanguarda europeia. Do seu pequeno estúdio em Montmartre absorve Cézanne, Renoir, Matisse, Tolouse-Lautrec, Picasso e Edvard Munch. Deixa-se influenciar pelo expressionismo e pelo simbolismo, mas procura sempre o seu estilo pessoal.

Modigliani retrata amigos, conhecidos, anónimos. Pinta e desenha nus de mulheres em poses sensuais e misteriosas, com esses quadros e desenhos faz a sua única exposição individual aos 33 anos, rapidamente censurada e proibida. A partir de 1909, inspirado pelas talhas de madeira africanas, dedica-se à escultura, retira cabeças e corpos humanos da pedra, peças que expõe no estúdio de Amadeo de Souza-Cardoso, pintor português com quem desenvolvera uma amizade próxima.

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Na sua breve vida, Modigliani tem pouco êxito, os quadros não pagam as contas da casa e dos bares que frequenta. Amores, álcool e drogas, são excessos mais tarde ampliados no cinema, no teatro e na literatura que farão de “Modi” uma lenda, uma personagem trágica.

Nos primeiros anos em Paris é apoiado por Paul Alexandre, que reconhece a genialidade do pintor. Compra-lhe desenhos, aguarelas e quadros, arranja-lhe novas encomendas. O jovem médico é o primeiro patrono do artista italiano, morto prematuramente aos 36 anos, com tuberculose. Dessa amizade fica uma coleção única, composta por centenas de obras, já mostrada no Palácio Grassi em Veneza, na Royal Academy em Londres, no museu Ludwig em Colónia e na Cultergest em Lisboa. O filho do colecionador, o historiador Noel Alexandre, faz uma visita guiada a esta exposição.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Magazine de Artes Visuais
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Isabel Colaço e Alexandre Melo
  • Produção: Produção Zebra para a RTP
  • Ano: 1995