Ricardo: cego e indefeso
Aos 36 anos, Ricardo divide-se entre a profissão de fisioterapeuta e as atuações de stand-up comedy. Não nasceu invisual, mas duas fatalidades tornaram-no parte de uma minoria geralmente encarada pelos outros como menos capaz: é cego. Para Ricardo, uma incapacidade que está apenas nos olhos de quem pode ver.
São vários os mitos sobre as pessoas que não veem. Ricardo diz que, por norma, toda a gente acha que os cegos são boas pessoas e bem educadas, mas também que não trabalham e têm de viver de caridade. Por experiência própria, testemunha, não é assim. Irrita-se particularmente com os exageros de quem quer ajudar os invisuais mesmo que eles não peçam apoio, como se eles não fossem capazes de fazer nada, esquecendo que quem não tem um sentido apura muito mais os outros. Diz que a maior dificuldade para as pessoas que têm o sentido da visão é conseguirem conceber invisuais a tratarem dos filhos.
Aprendeu a trabalhar sobretudo com as mãos e a namorar sem “trocas de olhares”. Brinca com os exemplos do que a vida nova lhe trouxe e afirma que a maioria das limitações está sobretudo na cabeça dos que podem ver. Daí que seja necessária uma lei para integrar no mercado de trabalho pessoas com debilidades físicas, mas perfeitamente capazes para as funções. Aqui encontra o grande estigma: se é cego, não consegue fazer. Se é cego vai é dar trabalho aos outros. Afinal, é tudo uma questão de visão sobre o outro.
#SÓQNÃO dá voz aos que sofrem de preconceito. Qualquer que seja: racial, religioso, sexual, físico, mas também profissional, alimentar, moral ou espiritual. Cada protagonista coloca-nos perante o que tem de ultrapassar no dia-a-dia e, assim, cada um vai representar um rótulo, por norma associado a uma ideia socialmente pré-concebida.
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Ficha Técnica
- Título: #SÓQNÃO - temporada 1, episódio 5
- Tipologia: Programa
- Autoria: Joana Martins
- Produção: RTP
- Ano: 2019