Gentrificação
A gentrificação (ou nobilitação urbana) é um dos processos de mudança urbana mais intensos nas grandes cidades do nosso tempo. Neste contexto, é importante ter em conta o significado do conceito, identificar as suas características e compreender as consequências positivas e negativas para o centro histórico. Veremos também como este processo se relaciona com a renovação, reabilitação e requalificação urbanas.
Desde há cerca de meio século, o conceito de gentrificação vem designar um processo de recomposição (e substituição) social verificado no espaço urbano, ligado muitas vezes a ações de reabilitação urbana dos edifícios nos centros históricos das cidades, mediante investimentos, quer públicos, quer privados.
Por definição, a gentrificação passou, assim, a designar o movimento de chegada de grupos de estatuto socioeconómico mais elevado, geralmente jovens e de classe média, a áreas centrais desvalorizadas da cidade.
O efeito é que essas áreas se tornam social, económica e ambientalmente valorizadas, sofrendo um processo de reabilitação, requalificação, ou renovação urbanas.
Por conseguinte, é um processo pelo qual os bairros pobres e de classe trabalhadora no centro histórico são requalificados, através da entrada de fluxos de capital privado e de proprietários e inquilinos da classe média e média-alta.
Este processo de mudança socio-espacial começa geralmente pela reabilitação de imóveis residenciais situados em bairros da classe trabalhadora ou de génese popular/tradicional. Na maior parte das vezes, a reabilitação de antigos edifícios atrai e promove a fixação de novos moradores relativamente endinheirados, levando ao desalojamento de ex-residentes que não podem mais pagar o aumento dos custos de habitação que acompanham a regeneração urbana.
Esta é a principal consequência negativa deste processo, ou seja, o despejo e expulsão dos moradores que viviam nos bairros, alguns há muitas décadas, o que resulta num aumento da segregação residencial e aprofundamento da diferenciação social na cidade.
Num esforço de revisão da literatura sobre a evolução do conceito de gentrificação, Savage e Warde (1993) defendem que para que este processo ocorra no espaço urbano, tem de se dar uma coincidência de quatro processos:
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uma reorganização da geografia social da cidade, com substituição, nas áreas centrais da cidade, de um grupo social por outro de estatuto mais elevado;
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um reagrupamento espacial de indivíduos com estilos de vida e características culturais similares;
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uma transformação do ambiente construído e da paisagem urbana, com a criação de novos serviços e uma requalificação residencial que prevê importantes melhorias arquitetónicas e reabilitação urbana;
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uma mudança da ordem fundiária, que, na maioria dos casos, determina a elevação dos valores fundiários (renda locativa) e um aumento da quota das habitações em propriedade, em detrimento do arrendamento.
A literatura sobre a gentrificação, em geral, já é extensa e continua a expandir-se. Muitos contributos citam a importância do processo para o desenvolvimento económico urbano e apontam que o discurso “regenerativo” da gentrificação, no âmbito de políticas urbanas de valorização da imagem da cidade visam:
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fixação da população para repovoar os centros históricos envelhecidos e, portanto, a estabilização e posterior inversão do cenário de declínio urbano de muitas áreas, sobretudo centrais;
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a defesa de um modelo de cidade mais consolidada e compacta em torno do centro, ao invés de um modelo de crescimento e expansão urbana (suburban sprawl);
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o incremento da mistura social, pois os mais pobres que ainda ficam nestes bairros centrais beneficiam do contacto social e económico com as classes médias e mais endinheiradas que entretanto chegam;
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o empoderamento das associações e outras organizações locais;
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o embelezamento do espaço público;
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a modernização do tecido económico, com a redinamização do comércio local e tradicional de bairro e o aumento do emprego e do crescimento económico locais;
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a melhoria da qualidade de vida urbana, em geral.
SÍNTESE
- A gentrificação designa um processo de mudança urbana e de substituição social nos bairros do centro histórico, nos quais as classes mais pobres são substituídas pelas classes mais endinheiradas. Geralmente, é um fenómeno associado a processos de renovação, reabilitação e requalificação urbanas.
- Os despejos e os desalojamentos (migração forçada) correspondem, com frequência, a efeitos negativos do fenómeno de gentrificação, embora a inversão do declínio urbano e do envelhecimento do centro histórico sejam, em contrapartida, consequências positivas para a cidade.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: População e Povoamento - Os espaços organizados pela população / As dinâmicas internas das áreas urbanas
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação de Professores de Geografia
- Ano: 2021
- Imagem: Obras de construção em Nova Iorque, F. Muhammad / Pixabay