A ascensão dos Bolcheviques ao poder na Rússia
Em 1917, a Rússia enfrentou duas revoluções. O país foi duramente atingido pela participação na Grande Guerra, perdendo milhões de homens na frente de batalha. O Czar abdicou na sequência da “Revolução de Fevereiro”. No entanto, o Governo Provisório não conseguiu dar resposta às reivindicações da população russa e, meses depois, uma segunda revolução, a "Revolução de Outubro”, colocava os bolcheviques no poder.
A Revolução de Fevereiro
A onda patriótica e o consenso nacional, gerados pela declaração de guerra da Alemanha à Rússia, durou pouco tempo. A perda de importantes territórios do seu império, as derrotas e as baixas sofridas deixaram a descoberto as profundas fracturas que atravessavam a sociedade russa. À degradante situação militar somava-se o descontentamento socioeconómico nas cidades e nos campos. Em plena guerra o país enfrentava uma profunda crise, com uma inflação descontrolada, que os reduzidos salários não conseguiam acompanhar. O açambarcamento de bens essenciais e a expansão do mercado negro contribuíram para a carestia de géneros e a generalização da fome.
No mês de fevereiro de 1917 (segundo o calendário juliano, que vigorava na Rússia; em março, de acordo com o calendário gregoriano, seguido nos países da Europa Ocidental) rebentaram greves na cidade de Petrogrado, contra a falta de pão, a guerra e o Czar Nicolau II.
As ordens para reprimir duramente as revoltas não foram acatadas pelo exército. O descontentamento era generalizado, estendendo-se aos soldados, que já não estavam dispostos a continuar uma guerra que consideravam sem sentido. A revolução rapidamente se propagou a outras cidades russas.
A queda do Czar, a formação do Governo Provisório e a vigência de um “duplo poder”
Os operários organizaram-se em conselhos (sovietes) e os soldados exigiram o afastamento de Nicolau II, que abdicou a 15 de março. O parlamento – a Duma – nomeou um governo provisório, liderado pelo príncipe Lvov, um liberal moderado, que procurará pacificar a situação, e que contava com o advogado socialista Aleksander Kerenski na pasta da Justiça.
Do exílio começaram a regressar as principais figuras do Partido Bolchevique, a ala revolucionária que resultara da cisão do Partido Operário Social-Democrata Russo, ocorrida em 1903. Um desses líderes era Lenine, que se encontrava exilado na Suíça.
Da “Revolução de Fevereiro” resultaram dois centros de poder, o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado, constituído por operários, soldados e políticos socialistas. O Soviete, adversário de um conflito que considerava “imperialista”, exigia a retirada imediata da guerra. O rumo moderado do Governo Provisório não conseguiu aplacar as reivindicações. Ao não pôr termo às operações militares, a sua popularidade foi diminuindo.
Cansados do conflito e das contínuas perdas humanas, bem como da inflação e do caos económico, cresceu a hostilidade em relação ao governo. A polarização era cada vez mais notória perante a incapacidade de o poder instituído dar resposta às principais reivindicações: paz, reforma agrária e autonomia para as minorias.
Na rua, os operários e os soldados, que constituíam a base social de apoio dos bolcheviques, apelavam ao Soviete para que tomasse o poder. Depois da tentativa falhada de golpe por parte da extrema-direita, sob liderança do general Kornilov, os bolcheviques conseguiram dominar os sovietes de Petrogrado e de Moscovo. Prometiam paz, pão, liberdade, reforma agrária, a distribuição da propriedade e o controlo das fábricas pelo povo.
A Revolução de Outubro e as principais medidas adotadas pelos bolcheviques
No início de outubro, Lenine convenceu o Comité Central do partido de que o momento para o assalto ao poder chegara. Na noite de 24 para 25 de outubro (segundo o calendário Juliano), o Palácio de Inverno e vários edifícios e pontos estratégicos, foram tomados de assalto. O poder estava agora nas mãos dos bolcheviques, enquanto os membros do Governo Provisório foram presos.
O novo governo, liderado por Lenine, tinha um programa ambicioso. Foram imediatamente emitidos importantes decretos. O Decreto sobre a Paz preconizava a saída da guerra e levaria à assinatura de uma paz separada com a Alemanha, enquanto o Decreto sobre a Terra instituía uma reforma agrária, com a nacionalização das grandes propriedades rurais e a sua distribuição pelos camponeses. O Decreto sobre o Controlo dos Trabalhadores dava aos trabalhadores o controlo sobre a gestão das fábricas.
Síntese
- No mês de fevereiro de 1917 rebentaram greves na cidade de Petrogrado, contra a falta de pão e contra a guerra e o Czar.
- Da “Revolução de Fevereiro” resultaram dois centros de poder, o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado.
- O rumo moderado do Governo Provisório não conseguiu aplacar as reivindicações.
- A polarização era cada vez mais notória perante a incapacidade de o poder instituído dar resposta às principais reivindicações: paz, reforma agrária e autonomia para as minorias.
Temas
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Relacionar a entrada da Rússia na Grande Guerra com o agravar das tensões sociais e políticas. Caracterizar a “Revolução de Fevereiro”, salientando o caráter demoliberal das medidas tomadas pelo governo provisório. Relacionar a decisão de permanência da Rússia na ª Grande Guerra com o eclodir da “Revolução de Outubro”. Caracterizar a “Revolução de Outubro”, as principais medidas tomadas (fim do envolvimento na guerra, participação dos operários na gestão das fábricas e divisão das grandes propriedades rurais pelas famílias camponesas).
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Cláudia Ninhos
- Ano: 2021
- Imagem: Czar Nicolau Ii à frente de tropas Russas