O princípio da ergonomia num objeto do Paleolítico
O que agora parece uma pedra normal, para os nossos antepassados do Paleolítico era uma ferramenta sofisticada, que fazia tudo. Ou quase tudo. O biface servia para furar, esmagar, cortar, raspar. Chegou à Europa muitos milhares de anos depois de ser fabricado em África e essa é a história que o arqueólogo Luiz Oosterbeek também vai contar aqui.
Terão pelo menos seiscentos mil anos os primeiros grandes bifaces que o Homo Heidelbergensis começou a fabricar na Europa. Talhados na pedra como se fossem esculturas, estes objetos complexos eram uma espécie de “faz-tudo” que facilitava a vida dos caçadores-recoletores. A ponta servia para furar, a base para esmagar e os gumes afiados para cortar com precisão peles e carne de animais, raspar e até escavar.
Mas, além de versáteis, estes artefactos, achados em Abrantes e ali expostos no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte, revelam uma noção de simetria, ao mesmo tempo que, na opinião do arqueólogo Luiz Oosterbeek, marcam o nascimento de um comportamento estético. A transformação da rocha banal numa peça perfeita e funcional resultava agora também de um novo olhar dos artesãos sobre a matéria-prima, da capacidade de imaginar e projetar a forma certa para estes utensílios, cada vez mais ajustados à mecânica da mão, segundo uma lógica de ergonomia pré-histórica.
Mais ou menos rudimentares, as técnicas de construção de bifaces eram praticadas há centenas de milhares de anos em África. Os primeiros migrantes não as reproduziram longe de casa, como se a memória tivesse apagado para sempre esse conhecimento privilegiado. Parece que foi preciso esperar por uma segunda vaga de descendentes do Homo Heidelbergensis, para estes instrumentos de contorno simétrico fazerem parte da atividade humana no Paleolítico, também na Europa.
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Ficha Técnica
- Título: Visita Guiada - Museu Ibérico de Arqueologia e Arte de Abrantes
- Tipologia: Excerto de Programa de Cultura Geral
- Autoria: Paula Moura Pinheiro
- Produção: RTP
- Ano: 2022