José-Augusto França, Uma História de Arte
Quem é o enigma José-Augusto França? O professor e escritor é a sua vasta obra, os cursos que criou e os discípulos que deixou. Mas também é a figura subversiva que fez parte do Grupo Surrealista de Lisboa, um admirador de Charles Chaplin e de Alexandre O´Neill.
Nascido em Tomar, teve durante toda a vida uma relação de amor com Lisboa e escolheu Jarzé, em França, para viver e morrer. É responsável por trazer à luz, pelo conhecimento que transmitiu e pelos escritos que deixou, a história da arte nacional, em particular dos séculos XIX e XX. Amante da natureza, dos livros e do cinema, o humor era um traço que o distinguia. Dizia que vivia “eçadequeirozmente” – triste com o país, mas com muito sentido de humor. Tinha como sonho de felicidade, o silêncio. Dizia-se um homem preguiçoso por natureza e por isso obrigava-se a trabalhar arduamente todos os dias.
Viveu quase 100 anos tendo deixado escritas as memórias de toda uma vida. Foi em França, para onde partiu em tempos de ditadura em Portugal, que encontrou o amor, a liberdade, o estudo e quadros de Picasso. E a partir daí descobriu uma vocação que o definiria como um mestre das artes. Escreveu sobre cinema, do qual tinha como referência maior Chaplin, mas, sobretudo, foi a pintura que o maravilhou para sempre. A sua preferida era “A Flagelação (de Cristo)”, de Piero della Francesca. Escreveu e promeveu grandes pintores portugueses do século XX como Amadeo de Souza Cardoso ou Almada Negreiros e tirou da sombra pintoras como Aurélia de Souza.
Olhei dez mil quadros, vi mil, estudei cem, compreendi dez
Ao longo da vida foram inúmeras as publicações que lançou e nas quais participou tendo a Arte como referência, desde o tempo em que integrou o Grupo Surrealista de Lisboa, até à direção da conceituada revista Colóquio Artes, da Fundação Calouste Gulbenkian – uma referência superior na divulgação cultural e artística. Foi José Augusto França quem, na década de 70, criou, em Portugal, o primeiro curso de História de Arte. Reconhecido como extraordinário em tudo sobre o que se pronunciava, foi na crítica de arte que deixou a sua marca maior, com uma obra escrita incomparável, com mais de uma centena de livros publicados.
O seu nome identifica a mais importante figura da História de Arte em Portugal no século XX, embora o próprio se definisse, antes de mais, como um “subversivo de natureza e de cultura”. Este documentário é uma incursão pela sua vida e obra, feito a partir de uma longa e rara entrevista com o próprio e de depoimentos de pessoas que lhe foram próximas. Conta com uma série de animações que o homenageiam com a criatividade e a liberdade referidas no título original do filme – uma expressão famosa do líder surrealista André Breton, Liberdade Cor de Homem.
Ficha Técnica
- Título: José-Augusto França - Liberdade Cor de Homem
- Tipologia: Documentário
- Autoria: Ricardo Clara Couto / Nuno Costa Santos
- Produção: Clara Amarela Films p/RTP
- Ano: 2019