A escrita dos afetos por António Alçada Baptista

Duas palavras para começar a falar de Alçada Baptista: liberdade e afeto. Porque as inquietações político-sociais estiveram sempre presentes na sua vida e porque cultivava sentimentos nas palavras e nas relações com amigos e desconhecidos. A obra diz tudo.

Nascido num meio conservador, filho de uma família católica e abastada da Covilhã, António Alçada estava destinado a ser um advogado influente. Terminado o curso na Faculdade de Lisboa, tentou ser o que dele era esperado. Tentou-o durante sete anos, porém havia uma Europa a sair de uma guerra, novas ideias e tendências a agitar mentalidades, ventos que o contagiaram e atraíram para uma oposição ativa a Salazar. Dedicou-se então à divulgação da cultura portuguesa e voltou a escrever mais assiduamente; era um gosto que lhe ficara da infância, quando imaginava histórias com monstros e princesas que, por vezes, passava para o papel.

Ligado ao movimento dos católicos de esquerda, ou “progressista”, como alguns preferiam chamar-lhe, Alçada Baptista acreditava numa transição pacífica para a democracia, com uma Igreja renovada, sem cumplicidades com o Estado Novo, norteada por verdadeiras preocupações humanas. Tratava-se de uma nova teologia, capaz de unir crentes e não crentes, cujos pensadores, envolvidos na preparação do Concílio Vaticano II, deu a ler na editora Moraes, fundada por ele em 1957, quando tinha 36 anos.

A história do Concílio Vaticano II
Veja Também

A história do Concílio Vaticano II

A editora é ainda responsável pela publicação de jovens autores portugueses, mais tarde nomes consagrados da literatura como Alexandre O´Neill, Maria Velho da Costa, Jorge de Sena ou António Ramos Rosa. Na mesma altura aventura-se em novo projeto e lança “O Tempo e o Modo”, uma das mais relevantes revistas na luta contra a ditadura e que irá marcar a geração de 60.

Ensaísta, cronista, novelista e romancista, António Alçada Baptista publicou o primeiro livro de reflexões “Peregrinação Interior I- Reflexões sobre Deus”, em 1971 e, onze anos depois, “Peregrinação Interior II – O Anjo da Esperança”. Nos anos 80 o autor de “Nós e os Laços” e de “Riso de Deus” era um escritor de sucesso junto da crítica e do público, porque, como o próprio um dia explicou, “a minha obra vende-se muito por uma razão simples, porque eu sou talvez o primeiro escritor que não teve vergonha dos afetos”.

Neste artigo, Guilherme d´Oliveira Martins recorda a obra e o homem que teve a ousadia de chamar a atenção para a importância dos sentimentos.

Jorge de Sena, o escritor que nos desafia a pensar
Veja Também

Jorge de Sena, o escritor que nos desafia a pensar

Um dia com Luís de Sttau Monteiro
Veja Também

Um dia com Luís de Sttau Monteiro

 

 

 

 

 

 

 

 

Lenda de Nossa Senhora da Pegadinha
Veja Também

Lenda de Nossa Senhora da Pegadinha

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Ler+ ler melhor - Breve Biografia de António Alçada Baptista
  • Tipologia: Extrato de Magazine Cultural
  • Produção: Filbox produções
  • Ano: 2011