A natureza poética de Teixeira de Pascoaes
Mentor do saudosismo, Teixeira de Pascoaes via no sentimento da saudade a possibilidade de ressuscitar a pátria e dar-lhe um nobre destino. O poeta de Amarante que contemplava de "dentro para fora" cultivou a prosa em biografias intuitivas e subjetivas.
Sem a força do nome literário que há de escolher para si, Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos ensaia os primeiros versos ainda jovem aluno do liceu de Amarante. Aos dezassete anos, publica “Embriões”, porém a lírica não deixava adivinhar o poeta único que ali estava a nascer. Também não foi preciso esperar muito: três anos depois, em 1898, com o terceiro livro “Sempre”, revela já um pouco da sua profunda natureza poética.
Ler e escrever, contemplar e meditar; o autor de “Marânus” e “Senhora da Noite”, vai viver quase como um eremita, numa inquietação religiosa e filosófica permanentes. No íntimo da sua alma pressentia que a essência das coisas, não podia ficar reduzida às definições científicas. Por isso deixa a advocacia, que exerceu durante dez anos, e regressa ao espaço da infância, ao seu “paraíso perdido” no solar da família, em Gatão, para questionar o mundo com as incertezas da imaginação.
Antes da proclamação da República, em 1910, o poeta e pensador admirador confesso de Guerra Junqueiro, já partilhava os ideais republicanos de criar um novo Portugal. Envolvido no movimento da Renascença Portuguesa que visava promover a cultura lusitana, funda em 1912, ao lado de Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista “Águia”, órgão oficial do saudosismo, linha de pensamento que se transforma no centro da sua filosofia e sobre a qual teoriza em vários volumes. No essencial, defendia que a saudade era o traço definidor da alma portuguesa, o sentimento unificador e dinamizador que podia dar um destino glorioso à Pátria.
Entre 1914 e 1934, para além de rever e reeditar os primeiros livros, Pascoaes escreve “O Pobre Tolo”, “Bailado” e “O Livro de Memórias”, publica livros de reflexões e ensaio como “A Arte de Ser Português” ou “O Génio Português na sua expressão filosófica, poética e religiosa”.
Com a poesia sempre presente, dedica a última fase da sua produção literária a construir uma série de biografias pouco convencionais. Mais do reconstruir a vida das personagens, o poeta biógrafo transfigura-se nas vidas de S. Jerónimo, Santo Agostinho, Camilo Castelo Branco e Napoleão. Como em tudo o resto, também aqui Teixeira de Pascoaes (1877-1952) é considerado um visionário do seu tempo.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Ler+ ler melhor - Vida e obra de Teixeira de Pascoaes
- Tipologia: Extrato de Magazine Cultural
- Produção: Filbox produções
- Ano: 2011