A Revolução das Mulheres depois de Abril
No dia em que a revolução chegou, a mudança foi radical para as mulheres. Não imediata, mas conquistada com luta, polémica e alguma turbulência. Porque embora se vivesse já em democracia, havia moralismos instituídos e o patriarcado não abdicava facilmente do poder que detinha. Até então os direitos eram quase nulos. E o que elas queriam era existir. Ter um corpo, uma identidade. Viver em liberdade.
Nos longos anos da ditadura, as mulheres serviam os maridos e a ideologia repressiva do regime. Ficavam presas à casa, à família, em casamentos tantas vezes infelizes. Os divórcios eram raros e malvistos. O adultério punido como crime, e o que a lei não condenava, a moral pública desaprovava. Evitavam-se beijos na rua, gestos de carinho. As raparigas solteiras que decidiam ter relações sexuais estavam por sua conta e risco. Faltava planeamento familiar, e a pílula, inventada para libertar o sexo da função de reprodução, usava-se em Portugal para regular o ciclo menstrual. O regime político preferia o silêncio do aborto clandestino, uma das principais causas de morte feminina. Discriminadas, diminuídas, as mulheres tinham um papel menor nesta sociedade patriarcal.
Nos anos revolucionários, são as mulheres que vão lutar por todos os direitos até então negados. Direito a ter uma voz, um corpo, uma sexualidade. São legalizados os métodos contracetivos, estruturam-se as consultas de planeamento familiar, os filhos fora do matrimónio deixam de ser ilegítimos e a virgindade feminina motivo para anular o casamento. Mais tempo seria necessário para as mentalidades aceitarem a descriminalização do aborto e da homossexualidade. A jovem democracia prometia outro modo de vida. Uma sociedade onde raparigas e rapazes fossem iguais.
Temas
Ficha Técnica
- Título: E Depois de Abril: Amor e Sexo
- Autoria: Marta Jorge
- Produção: RTP
- Ano: 2014