As Mulheres do País de Maria Lamas

Na primeira metade do século XX, uma jornalista fez-se ao caminho para dar rosto e voz às mulheres do seu país. Pouco ou nada se sabia destas portuguesas, do trabalho que faziam, dos sacrifícios e humilhações que suportavam. Maria Lamas entrevistou-as, fotografou-as, construiu uma obra marcante do feminismo português. De mulher para mulheres.

Retomamos a viagem de Maria Lamas. Inédita, ambiciosa, por caminhos que nunca ninguém tinha antes percorrido. Era um país inteiro com vidas escondidas que a jornalista queria retratar. Escritora, tradutora e também ativista política, tinha o compromisso de lutar pelos direitos das mulheres. A causa moveu-a neste projeto que começou em 1947, quando afastada da direção da revista “Modas e Bordados” e do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.  

Durante três anos andou de bloco de notas, lápis e máquina fotográfica na mão a registar as condições em que as suas compatriotas viviam e trabalhavam. De norte a sul, nos Açores e na Madeira, entrevistou e fotografou mulheres de todas as classes sociais. A maioria não correspondia ao ideal feminino do Estado Novo. Os testemunhos de pobreza, exploração e humilhação contradiziam o discurso oficial.  

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Mais do que uma reportagem inovadora, Maria Lamas criou uma obra documental, um ensaio antropológico contra a indiferença, para abalar consciências. Primeiro em fascículos, depois em livro grosso com mais de 500 páginas, rostos a preto e branco ilustram histórias de injustiça e desigualdade. Recolheu muitas, contadas por operárias, bordadeiras, lavadeiras, criadas, enfermeiras, telefonistas, professoras.  

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Mulheres que trabalhavam de sol a sol, que manejavam as mesmas ferramentas dos homens. No campo, nas minas, nas salinas, na construção civil, na reparação de estradas. Eram as mulheres do povo com “uma vida muito escrava”. A frase aparece no início de “As Mulheres do Meu País”, o livro que, mais de setenta anos depois, fez nascer outro livro e um filme. Deste passado revisitado em conjunto, Susana Moreira Marques e Marta Pessoa, escritora e realizadora, encontraram uma mulher que trabalhou na pesca do bacalhau. De todos os testemunhos anotados por Maria Lamas, este que ouvimos em discurso direto.  

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2023